sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Acarajé: História, alimento e liberdade



Recentemente muitos programas de televisão, canais e livros passaram a fazer sucesso com dicas e receitas de pratos com  formatos interativos. Cozinhar passou a chamar atenção por conta dos canais e redes sociais, onde as pessoas criam,  preparam e compartilham seu alimento.

A alimentação vem ganhando atenção por parte dos historiadores. Saber o que as pessoas comem é também uma forma de percebermos a organização social, política, cultural  e econômica das pessoas em tempos e lugares diversos. 

No Brasil, muitas foram as privações dos povos indígenas e africanos com a escravidão. O trabalho exaustivo em grandes lavouras com castigos, a distância dos familiares, com proibição de cultivar a sua própria fé, culturas e seus alimentos, estavam presentes no cotidiano.



Dessa forma, vou contar a História  do acarajé para vocês. Veremos um pouco do percurso que o acarajé fez e o quanto combina com a nossa História. O Acarajé que chegou da  África ao Brasil com os negros escravizados e conta uma história de religião, liberdade e também  de preconceito. Comida de santo e de rua, o acarajé é um bolinho feito a partir do feijão fradinho triturado e batido. Frito no azeite de dendê,  é  um alimento complexo  como a sua própria  História. Como boa parte de nosso patrimônio cultural, o acarajé cruzou o Atlântico em navios Negreiros para chegar ao Brasil entre o século XV e XIX. 


Surgiu na região da África ocidental onde ficam países como Togo, Benin, Nigéria e Camarões. Africanos aprisionados eram comprados no litoral da África para serem escravizados na Europa e aqui na América. O embarque  dos negros era  feito no litoral da África, de países como Senegal, Benin, Nigéria, São Tomé e Príncipe, Guiné, Angola e Moçambique.



Oficialmente desembarcaram nos portos do Brasil, mais de 12, 5 milhões de africanos, onde a riqueza de nosso país foi construída por mãos indígenas e africanas. Diversos estudos tem sido feito para que possamos conhecer mais como foi este tráfico e, impedir, através do conhecimento, que haja mais violência  em nosso país.

No Norte da  África, temos a a população árabe que trouxe muito conhecimento científico para o Ocidente. Eles também cultivam até os dias de hoje um bolinho muito parecido com o acarajé, o falafel. Ao chegar no Brasil, o acarajé esteve presente em  diversas cidades do litoral, como Salvador e Rio de Janeiro.

Com as Baianas do Acarajé, que a cultura do acarajé será popularizada. Vestindo uma indumentária própria, e hoje considerada um patrimônio cultural, tanto no âmbito religioso de matriz africana, quanto na cultura e na economia. As mulheres baianas vendiam o acarajé nas cidades e levavam o dinheiro do seu ganho para os seus senhores escravistas. Eram  "escravizadas de ganho", que se tornou também uma profissão. 


No período da escravidão, as mulheres que foram escravizadas de ganho, além de vender seus bolinhos para levar dinheiro aos seus "donos", juntavam dinheiro  para comprar alforria e conquistar a liberdade. Nas rebeliões, as baianas de tabuleiro tiveram papel importante, pois espalhavam informações em  bilhetes  com dia e horário de algumas  rebeliões, nas quais tivemos grandes mulheres que destacavam nessas lutas, como foi o caso de Luísa Mahin , ( que além de  ser mãe de Luís Gama), participou ao menos de duas rebeliões neste período, tais como a Revolta dos Búzios( 1822) e a Rebelião dos Malês(1835) na Bahia. Nessa última, distribuiu bilhetes com a frase " morte aos brancos, e viva Malês!"

Na virada do século XIX para o século XX, tivemos a Tia Ciata, que também era Baiana de tabuleiro e ajudou a fundar o que conhecemos de "Pequena África " no Rio de Janeiro, com seus bolinhos, reuniões e batuques que reunia  choro, samba e religiosidade afro-brasileira no Centro do Rio de Janeiro.


Foto Tia Ciata

A História dos alimentos, nos ajuda a  conhecermos uma versão cotidiana e popular da nossa  História, com os cheiros e sabores dos alimentos, que tanto nos  inspiram a liberdade  no dia a dia a partir deste período histórico...Por isso, alimentar-se melhor também significa apoiar  pequenos agricultores, redistribuir renda e terra, respeitar o meio ambiente, nutrir o mundo com comida de verdade, e  da necessidade de conhecer a política e a economia de diversas pessoas, culturas e povos. Isso também significa sustentabilidade.


 Escreva em seu caderno uma receita de um alimento que você conheça e que respeite a natureza, respeite a saúde e seja plantado e vendido em nosso país. Se puder, combine um dia e compartilhe sua receita em nossa aula

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