domingo, 18 de novembro de 2018

A Revolta da Chibata e a Revolta da Vacina na Primeira República

Com a proclamação da República uma nova Constituição instituiu o modelo político que entraria em vigor a partir daquele momento. Mesmo com a mudança na forma de governar, algumas práticas foram mantidas, pois a mudança do modelo político não garantiu a alteração de práticas políticas e sociais, e sim o contrário. 



 Neste sentido é que a Constituição de 1891 estabeleceu eleições diretas com voto aberto para todos os cargos dos poderes Legislativo e Executivo. Os direitos políticos (direito de votar e ser eleito) eram restritos somente aos Homens e alfabetizados, que neste momento corresponde apenas a 20 por cento da população. 


Ainda por cima, o voto por ser aberto permitia manipulação por parte das lideranças locais - “os coronéis” - daqueles que seriam eleitos. Assim, haviam grandes alianças em todas as esferas políticas que eram marcadas pelo autoritarismo local, seja com o juiz de paz que se tornara juiz da cidade e era também um membro da igreja e também detinha o arbítrio policial. Nesse cenário que se desenhava na República, que muito se assemelhava as práticas do Império, algumas revoltas ocorreram. 
O povo, como se verá, não assistiu aos desmandos do Estado de forma imparcial nem mesmo bestializada. 

Praça da República  na Revolta da Vacina. 

 No meio Urbano, em 1904 ocorreu no Rio de Janeiro, então capital federal, a Revolta da Vacina. Mesmo sendo a capital do país, no Rio de Janeiro havia condições de insalubridade, com muita miséria nas suas ruas estreitas. Os cortiços eram uma das principais formas de moradia para as classes mais pobres. 
Esse cenário foi favorável para a expansão de epidemias de doenças como Febre Amarela, Varíola e Malária. Diante disso, o então presidente Rodrigues Alves nomeou Pereira Passos como prefeito da cidade do Rio de Janeiro para fazer sua modernização. 
Dentro dessa modernização, ruas foram alargadas com a construção da Avenida Central, atual Rio Branco e morros foram derrubados (morro do Senado e do Castelo); e prédios públicos foram construídos, etc. É neste contexto que se iniciam as primeiras favelas no Rio, quando a população que foi expulsa de suas moradias por conta destas obras do " Rio bota abaixo".
Assim, as classes mais pobres sobem os morros em busca de nova moradia, já que o governo não proveu esse tipo de assistência desde o fim da abolição. Além das reformas de saneamento, saúde e educação, era necessário acabar com as epidemias que cada vez mais se espalhavam, e para isso o presidente propôs obrigatoriedade da vacina, realizando essa medida de forma autoritária, sem previamente expor para a sociedade a importância da vacinação. 
 O descontentamento com a derrubada dos cortiços e a violência se agravou com o autoritarismo do governo na vacinação. Essa situação gerou grande resistência por parte da população (vários segmentos, inclusive militares, intelectuais e a imprensa). 
 Desse modo, quando a obrigatoriedade efetivamente foi publicada, uma revolta eclodiu no Rio de Janeiro. Durante 4 dias houveram muitas manifestações populares sem que a polícia conseguisse conter. 


Revolta da Vacina

 Prata Preta, capoeirista e trabalhador da estiva, além de Manduca, capoeirista do Bairro da Saúde são nomes de revoltosos conhecidos. Derrubaram bondes no largo do Rossio, jogaram sacos de rolha contra os cavalariços embalados e, numa multiplicidade de iniciativas, enfrentaram a polícia municipal, o Corpo de bombeiros e batalhões do Exército chamado às pressas. 

Prata Preta. Pintura  Enciclopédia Negra

 A repressão policial foi muito violenta. Efetivos de outros estados também foram recrutados. Os manifestantes que eram presos foram jogados em porões de navios e enviados ao Acre. Inclusive o capoeirista Prata Preta. 
 A vacinação obrigatória acabou por ser suspensa e outras epidemias ainda ocorreram após esse episódio até que o governo conscientizasse a população da importância da vacinação coletiva. 
 No bairro da Saúde, reduto de homens e mulheres vindos especialmente da Bahia, a resistência foi enorme. 
Já em 1910, houve a Revolta da Chibata, também no Rio de Janeiro. Os marujos da Marinha do Brasil reivindicavam melhores condições de trabalho: soldos melhores, alimentação e jornadas de trabalho menos excessivas; assim como o fim do castigo físico (uso da chibata). 

Liderados por João Cândido, os marinheiros prenderam oficiais e miraram os canhões dos navios para a cidade do Rio de Janeiro, como formas de requerer melhorias. O Congresso Nacional negociou com os revoltosos e concedeu as melhorias e anistias, porém nada mudou. 

Lideranças da Revolta da Chibata


 Em uma segunda tentativa de revolta, muitos marinheiros foram presos, inclusive João Cândido. Eles foram detidos em navios e mandados para Amazônia, porém muitos deles morreram ou foram executados no caminho até lá. 


Assinam este texto, além da  Professora Fabíola Camargo, a  estagiária em Prática de Ensino, Clara Carvalho. 

 Fontes: 


 CARVALHO, José Murilo de. “Cidadania: Tipos e Percursos”, “Estudos Históricos”, vol. 9, n. 18, 1995, p. 338-339.

 CARVALHO, José Murilo de. "Cidadãos ativos: a Revolta da Vacina" In Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. 

MOURA, Roberto. “Tia Ciata e a Pequena África do Rio de Janeiro. 2ª edição, Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura, Divisão de Editoração, 1995.

https://revistagalileu.globo.com/sociedade/historia/noticia/2023/06/como-a-revolta-da-vacina-moldou-a-saude-publica-no-brasil.ghtml

EnciclopediaNegra/posters/Enciclopedia_Negra_PrataPreta.pdf

www.historyoffighting.com/mestre-manduca-da-praia.php

Canudos

Em Canudos chegaram a se concentrar cerca de 30 mil pessoas, procedentes das diversas regiões da Bahia e de diversos estados do nordeste. Buscavam construir suas vidas fora do mandonismo dos grandes proprietários. Chegaram a vender seus pertences em busca de uma terra prometida. Dos fatores que levaram a formação de Canudos, destaca-se a grande seca de 1877-1879 e a substituição dos engenhos por usinas-unidades industriais que aceleraram o monopólio da indústria açucareira, resultando na expulsão de levas de camponeses. Isto se deve ao fato de que a lei Áurea, ao invés de incluir os negros escravizados, os legou o abandono e o trabalho forçado sem proteção de nenhuma lei que lhe assegurasse a moradia nem o alimento. Daí o deslocamento para Belo Monte de levas imensas de camponeses se avolumaram com a instalação do arraial de canudos. E se localizava à margem do rio Vaza – Barris. Tendo como principal liderança o líder religioso Antônio Conselheiro, defendia os humildes, fazia reparos em igrejas e organizava procissões até se tornar um líder entre os camponeses sem-terra. Chegou a Belo Monte na Bahia em 1893 fundando o Arraial de Canudos. A República que fora fundada sem a participação das maiorias, trouxe leis que forçaram a exclusão. Preocupados com o exemplo, autoridades eclesiásticas enviaram em 1895 três frades franciscanos para convencer Belo Monte a se dispersar. Em 1896, para terminar a igreja erguida em Canudos, Conselheiro encomendou madeira que, não chegou até que Conselheiro se propôs a ir pegar pois havia feito o pagamento antecipadamente. Mas foi espalhada a falsa notícia que Conselheiro iria invadir Juazeiro com os sertanejos de Belo Monte. Este foi o estopim para que as autoridades militares intervierem a pedido do governo estadual da Bahia. No início de 1897, nova expedição com mais de 600 soldados e dois canhões e mais duas metralhadoras também fracassou. Sem armas, os sertanejos utilizaram emboscadas que obrigaram as tropas se retirar desmoralizadas. Na terceira expedição, cuidadosamente preparada reunia 1.200 soldados de infantaria, quatro canhões e uma companhia de cavalaria comandada pelo coronel Moreira Cesar apelidado de corta-cabeças por sua atuação na Revolução Federalista quando mandara fuzilar e degolar partidários do movimento insurrecional. O coronel, integrado ao florianismo, movimento militar em favor de Floriano na Presidência da República contra o presidente Prudente de Moraes. Mas contra Canudos, o coronel Moreira Cesar falhou. As elites entraram em pânico e o exército prometeu reagir com mais força. Foi em 1897 que a quarta expedição foi integrada por tropas de 11 estados da federação. Sob comando do general Artur Oscar, esteve à frente de 6 mil homens divididos em duas colunas. Cerca de 400 jagunços foram contratados e agregados a expedição. Muitas baixas aconteceram quando os soldados viram seus homens mortos das demais expedições no caminho. Mas a ordem era de riscar Canudos do mapa. O sonho de uma comunidade livre e igual terminou. 30 mil pessoas foram mortas. Fontes: BERUTTI, Flavio Costa. Caminhos do Homem: Do Imperialismo ao Brasil do século XXI. 3º ano, ensino médio 3. ed., Curitiba, Base Editorial, 2016. CUNHA, Euclides da. Os Sertôes: Campanha de Canudos, 39ª edição, Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves Editora: Publifolha, 2000. AQUINO, Rubim Leão. Sociedade Brasileira: uma História através dos movimentos sociais: da crise do escravismo ao apogeu do neoliberalismo. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.