domingo, 25 de julho de 2021

A lutas por Independência na América Espanhola


Vimos no bimestre anterior que a França  revolucionária sofreu um golpe: O golpe de Napoleão Bonaparte. Este golpe  levou a invasão de Napoleão também nas Américas e levou as nações latino-americanas a ter que lutar por Independência.

A América espanhola estava dominada pelo poder político dos chapetones (elites europeias que  administraram os interesses dos colonizadores nas américas)  e ocupavam altos  cargos político-administrativos. Já as elites criollas (filhos de espanhóis nascidos nas colônias), não tinham a confiança dos reis, mas faziam parte da  elite econômica e viviam nas próprias colônias. Estes últimos só participavam do poder político das metrópoles nos cabildos (uma espécie de câmara municipal com poder político limitado).




Quando aconteceu  a invasão napoleônica na Espanha, com a queda de Carlos IV,  assumiu o irmão de Napoleão, José Bonaparte, que queria  mais liberdade nas colônias. Desta forma, os cabildos se transformam em juntas insurrecionais das elites criollas a partir de 1808  até 1815. Nestas juntas, estas elites não tinham acordo sobre como deveria ser o poder colonial, pois seus interesses eram diferentes. Alguns criollos apoiavam as monarquias, pois acreditavam que os reis os apoiariam e que ganhariam a confiança dos reis após a restituição do poder dos reis nas metrópoles. Outras  elites criollas discordavam deste posicionamento, pois entendiam que este era um momento importante para que as colônias ganhassem mais poder político, mas havia ainda um  outro posicionamento, de uma  minoria, que vai defender a independência, como foi o caso  do Bernardo no Chile, Morellos no México e Francisco Miranda na Venezuela. Os exércitos espanhóis intervieram e reprimiram  a independência. Após 1815, com a  restauração  monárquica no Congresso de Viena, Fernando VII assumiu o trono espanhol e retomou o poder autoritário e absolutista, o que gerou um clima de insatisfação desta elite que se prepara para lutar pela independência nas Américas.


Fonte: http://pt.slideshare.net/zezesilva/independencia-da-america-espanhola

 A Inglaterra possui interesse em acabar com a exclusividade  do comércio colonial nas Américas e apoia a independência. Há uma conquista de Independência até 1828, com a Independência  do Uruguai após a Guerra Cisplatina. Simon Bolívar surgiu como liderança na luta pela independência nas Américas defendendo o pan-americanismo, ou bolivarianismo, como forma de se tornar independente.  Os diferentes interesses no continente americano contarão com forte  oposição dos Estados Unidos, do Brasil, e com a interferência da Inglaterra, ficando a América fragmentada e marcada pelo caudilhismo. A América Espanhola se consolidou com  Repúblicas fragmentadas após as lutas por Independência, contra o Império do Brasil e dos Estados Unidos.


*Quais são as principais características deste contexto histórico em âmbito internacional?

*Identifique os diferentes posicionamentos nos cabildos na disputa política e econômica pelas independências:

  As lutas por Independência em Cuba

 Cuba deu início a  luta por Independência em outubro de 1868, quando o advogado e proprietário de terras, Carlos Manuel de Céspedes fez uma declaração formal contra a dominação da metrópole espanhola.

Este episódio conhecido como  "Grito de Yara" marcou a eclosão da Primeira Guerra de independência do país, a guerra de "Dez anos" (1868 -1878) sob a liderança do próprio Carlos Manuel de Céspedes,  Antônio Maceo,  Máximo Gomez e Calixto Garcia.



A guerra dos Dez Anos, para além de uma guerra civil entre os que defendiam a independência ou  a permanência  como colônia, foi também uma guerra que girou em torno da questão da abolição da escravidão.

A parte ocidental do país, majoritariamente branca e produtora de açúcar, era contra a abolição, e por ser racista,  perdeu uma aliança decisiva da população negra para se tornar independente dos espanhóis.


Por isso, os exércitos independentistas, também conhecidos como Mambises, tomaram diversas cidades no oriente e no centro do país, mas não conseguiram se expandir para o ocidente.


 Os mambises lutaram e resistiram por dez anos, mas com  a repressão dos exércitos espanhóis, acabaram se rendendo em 1878, com assinatura do Pacto de Zanjón , que em troca da deposição de armas rebeldes, os espanhóis os anistiaram, libertaram os escravos que lutaram pela independência, e prometeram reformas políticas. Era o fim da guerra dos Dez Anos, mas a colonização e a escravidão permaneceram intactas.


Inconformados com o desfecho da guerra, Antonio Maceo e Calixto Garcia investiram seus esforços numa segunda guerra de independência -  A Guerra Chiquita. 

Esta segunda tentativa, teve início em agosto de 1879 e foi derrubada em agosto de 1880 em função do desgaste dos rebeldes, da falta de recursos, inclusive de armas, e sobretudo em função da abolição da escravidão não ter sido acolhida.

A reação espanhola, aproveitando-se da divergência existente na sociedade sobre a questão da abolição, tratou de inserir o medo do  "haitianismo", que se tratava do medo das elites brancas da luta por abolição vir junto da luta por Independência, do modo como aconteceu no Haiti, o que levou ao enfraquecimento cada vez maior na luta por independência em Cuba.


Imagem pesquisada dia  23/08/2021 em:https://www.coladaweb.com/historia/independencia-de-cuba


 Já a terceira guerra de independência foi organizada com os diferentes projetos políticos em disputa. Com início em 1895, sob a   liderança de José Martí, que saiu de Nova York ao encontro de Máximo Gomes em São Domingos,  assinaram o Manifesto de Montes Christi em 25 de março de 1895, e embarcaram rumo à parte oriental de Cuba.

 No entanto, José Martí foi morto apenas seis meses após o desembarque na província de Guantánamo numa emboscada espanhola em 19 de maio de 1895.


Neste ano de 1895 havia três diferentes projetos políticos em disputa em Cuba: os autonomistas, eram a minoria e defendiam a manutenção dos laços com Espanha;  já os anexionistas defendiam anexação aos Estados Unidos, e um terceiro grupo inspirado pelos ideais de José Martí, defendiam a soberania do povo cubano e alertavam sobre as pretensões imperialistas dos Estados Unidos. 


A guerra pela independência foi se espalhando pela província do oriente e avançou em direção ao centro da Ilha. Enfrentaram os espanhóis em sangrentas batalhas, invadiram grandes propriedades e queimaram plantações, sobretudo as de cana-de-açúcar. Assim tomaram Camaguey, Sancti Spíritus, Santa Clara Trindad quando conseguiram adentrar no lado ocidental da Ilha.


Em fevereiro de 1898, quando a guerra já estava praticamente vencida, um encouraçado estadunidense, ancorado no Porto de Havana, o Maine, explodiu e matou cerca de 250 marinheiros. O governo dos Estados Unidos acusou os espanhóis de terem provocado a explosão e após um mês, o congresso do país com apoio do presidente William Mc Kinley aprovou formalmente a guerra contra os espanhóis pelo direito de Cuba ser livre e independente exigindo que Espanha renunciasse poder sobre Cuba, aprovando  a "Emenda Teller"  que tratava de uma conquista dos exilados contra anexação de Cuba pelos Estados Unidos. 

Acreditava-se que a Emenda Teller foi um meio de justificativa de entrada dos Estados Unidos no conflito para pôr em prática a pretensão imperialista. 


Os cubanos que vinham lutando por três anos, com três insurreições seguidas, tiveram a vitória tirada das mãos com a explosão. 

O desfecho se deu com a assinatura do Tratado de Paris em dezembro de 1898, quando representantes dos Estados Unidos e da Espanha se reuniram na cidade francesa sem representação cubana, e estabeleceram as  cláusulas da rendição espanhola. Com este tratado, definiram que Cuba e também Filipinas, Porto Rico e Ilha de Guam seriam entregues aos Estados Unidos.


Com isso, a ocupação militar dos Estados Unidos teve início em 1899 que manteve vigente a legislação colonial espanhola, além de acordos políticos e econômicos com as elites açucareiras. Os Estados Unidos se comprometeram  a não exercer controle sobre Cuba, mas em 1900 trataram de fazer acordo com as elites locais nas primeiras eleições e estabeleceram que os votantes seriam homens maiores de 20 anos e proprietários de  mínimo 250 dólares, deixando os cubanos dependentes e empobrecidos.


As lutas de Independência no México


Nova Espanha era o México de hoje. A luta pela independência se deu com violência pelos espanhóis. Por isso, após 1815 a luta que possuía um caráter social e racial( com indígenas e mestiços), passou a ter direção das elites criollas, eliminando a possibilidade de reforma agrária. Em 1811 estourou uma revolta camponesa liderada pelo padre Miguel Hidalgo, com grande exército camponês. As tropas espanholas e as elites criollas derrotaram os camponeses com extrema violência. 

Em 1813 sob a direção de padre Morelos houve  outra rebelião. Embora a cúpula da igreja católica  estivesse ao lado das elites, esta rebelião apontava a independência com distribuição de terras, fim da escravidão, direitos e governo democrático.

 Em 1815 chegaram mais tropas da Espanha e houve fuzilamento e massacre. Dessa forma, o militar Agustín Itúrbide, propôs o plano de Iguala, que previa uma monarquia católica independente na América. Este plano agradou a igreja católica e as elites criollas. Dois anos depois, Itúrbide foi deposto e a República foi proclamada. Dessa forma, conservadores e liberais passaram a disputar o poder no México. Os conservadores, vinculados a igreja católica representavam os grandes proprietários de terras e buscavam a manutenção das estruturas de poder do período colonial. Já os liberais queriam o fim dos privilégios dos latifundiários e defendiam a liberdade de comércio e de expressão, igualdade jurídica, reforma agrária e modernização da produção e das relações de trabalho.

 Em 1850 os liberais assumiram  o poder  com intuito de criar uma classe de pequenos proprietários para renovar a agricultura mexicana, aprovando uma Constituição em 1857. No entanto, a constituição permitiu que as terras indígenas fossem expropriadas. Houve resistência, mas a igreja manteve à força suas propriedades.

 Em 1876, Porfírio Díaz assumiu a presidência do México e ficou 35 anos no poder. Aos 80 anos candidatou-se novamente. Com desconfiança, as oposições denunciaram fraudes eleitorais. 



Francisco Madero, candidato da oposição, se candidatou defendendo a  não reeleição obtendo apoio popular, mas foi acusado de incitação à rebelião sendo encarcerado. Porfírio então foi reeleito. Madero foi libertado e exilou-se nos Estados Unidos e lá escreveu um projeto liberal que convocava  a população mexicana a se rebelar contra  o porfiriato. com o plano de São Luis Potosí que ganhou adesão de setores populares como operários e camponeses, dando início à Revolução Mexicana. 

As principais lideranças  eram Pascual Orozco e o camponês Pancho Villa no norte do país. 

No Sul surge a liderança de Emiliano Zapata. Defendiam a retomada das terras indígenas e a Reforma Agrária. 

Os combates tomaram todo o país levando  a renúncia  e ao exílio de Porfírio Diaz em maio de 1911, quando um governo provisório foi formado até que fossem  convocadas novas eleições. Francisco Madero foi eleito, mas não realizou a Reforma Agrária, como era necessário.

 A oposição se reorganizou em torno de Emiliano Zapata e propôs o Plano de Ayala em novembro de 1911. Madero acabou deposto e fuzilado por porfiristas apoiados pelos Estados Unidos em 1913.