terça-feira, 16 de novembro de 2021

Olhos d’água - Conceição Evaristo




Uma noite, há anos, acordei bruscamente e uma estranha pergunta explodiu de minha boca. De que cor eram os olhos de minha mãe? Atordoada custei reconhecer o quarto da nova casa em que estava morando e não conseguia me lembrar como havia chegado até ali. E a insistente pergunta, martelando, martelando... De que cor eram os olhos de minha mãe? Aquela indagação havia surgido há dias, há meses, posso dizer. Entre um afazer e outro, eu me pegava pensando de que cor seriam os olhos de minha mãe. E o que a princípio tinha sido um mero pensamento interrogativo, naquela noite se transformou em uma dolorosa pergunta carregada de um tom acusatório. Então, eu não sabia de que cor eram os olhos de minha mãe?

Sendo a primeira de sete filhas, desde cedo, busquei dar conta de minhas próprias dificuldades, cresci rápido, passando por uma breve adolescência. Sempre ao lado de minha mãe aprendi conhecê-la. Decifrava o seu silêncio nas horas de dificuldades, como também sabia reconhecer em seus gestos, prenúncios de possíveis alegrias. Naquele momento, entretanto, me descobria cheia de culpa, por não recordar de que cor seriam os seus olhos. Eu achava tudo muito estranho, pois me lembrava nitidamente de vários detalhes do corpo dela. Da unha encravada do dedo mindinho do pé esquerdo... Da verruga que se perdia no meio da cabeleira crespa e bela... Um dia, brincando de pentear boneca, alegria que a mãe nos dava quando, deixando por uns momentos o lava-lava, o passa-passa das roupagens alheias, se tornava uma grande boneca negra para as filhas, descobrimos uma bolinha escondida bem no couro cabeludo ela. Pensamos que fosse carrapato. A mãe cochilava e uma de minhas irmãs aflita, querendo livrar a boneca-mãe daquele padecer, puxou rápido o bichinho. A mãe e nós rimos e rimos e rimos de nosso engano. A mãe riu tanto das lágrimas escorrerem. Mas, de que cor eram os olhos dela?

Eu me lembrava também de algumas histórias da infância de minha mãe. Ela havia nascido em um lugar perdido no interior de Minas. Ali, as crianças andavam nuas até bem grandinhas. As meninas, assim que os seios começavam a brotar, ganhavam roupas antes dos meninos. Às vezes, as histórias da infância de minha mãe confundiam-se com as de minha própria infância. Lembro-me de que muitas vezes, quando a mãe cozinhava, da panela subia cheiro algum. Era como se cozinhasse ali, apenas o nosso desesperado desejo de alimento. As labaredas, sob a água solitária que fervia na panela cheia de fome, pareciam debochar do vazio do nosso estômago, ignorando nossas bocas infantis em que as línguas brincavam a salivar sonho de comida. E era justamente nos dias de parco ou nenhum alimento que ela mais brincava com as filhas. Nessas ocasiões a brincadeira preferida era aquela em que a mãe era a Senhora, a Rainha. Ela se assentava em seu trono, um pequeno banquinho de madeira. Felizes colhíamos flores cultivadas em um pequeno pedaço de terra que circundava o nosso barraco. Aquelas flores eram depois solenemente distribuídas por seus cabelos, braços e colo. E diante dela fazíamos reverências à Senhora. Postávamos deitadas no chão e batíamos cabeça para a Rainha. Nós, princesas, em volta dela, cantávamos, dançávamos, sorríamos. A mãe só ria, de uma maneira triste e com um sorriso molhado... Mas de que cor eram os olhos de minha mãe? Eu sabia, desde aquela época, que a mãe inventava esse e outros jogos para distrair a nossa fome. E a nossa fome se distraía.

Às vezes, no final da tarde, antes que a noite tomasse conta do tempo, ela se assentava na soleira da porta e juntas ficávamos contemplando as artes das nuvens no céu. Umas viravam carneirinhos; outras, cachorrinhos; algumas, gigantes adormecidos, e havia aquelas que eram só nuvens, algodão doce. A mãe, então, espichava o braço que ia até o céu, colhia aquela nuvem, repartia em pedacinhos e enfiava rápido na boca de cada uma de nós. Tudo tinha de ser muito rápido, antes que a nuvem derretesse e com ela os nossos sonhos se esvaecessem também. Mas, de que cor eram os olhos de minha mãe?

Lembro-me ainda do temor de minha mãe nos dias de fortes chuvas. Em cima da cama, agarrada a nós, ela nos protegia com seu abraço. E com os olhos alagados de pranto balbuciava rezas a Santa Bárbara, temendo que o nosso frágil barraco desabasse sobre nós. E eu não sei se o lamento-pranto de minha mãe, se o barulho da chuva... Sei que tudo me causava a sensação de que a nossa casa balançava ao vento. Nesses momentos os olhos de minha mãe se confundiam com os olhos da natureza. Chovia, chorava! Chorava, chovia! Então, porque eu não conseguia lembrar a cor dos olhos dela?

E naquela noite a pergunta continuava me atormentando. Havia anos que eu estava fora de minha cidade natal. Saíra de minha casa em busca de melhor condição de vida para mim e para minha família: ela e minhas irmãs que tinham ficado para trás. Mas eu nunca esquecera a minha mãe. Reconhecia a importância dela na minha vida, não só dela, mas de minhas tias e todas a mulheres de minha família. E também, já naquela época, eu entoava cantos de louvor a todas nossas ancestrais, que desde a África vinham arando a terra da vida com as suas próprias mãos, palavras e sangue. Não, eu não esqueço essas Senhoras, nossas Yabás, donas de tantas sabedorias. Mas de que cor eram os olhos de minha mãe?

E foi então que, tomada pelo desespero por não me lembrar de que cor seriam os olhos de minha mãe, naquele momento, resolvi deixar tudo e, no outro dia, voltar à cidade em que nasci. Eu precisava buscar o rosto de minha mãe, fixar o meu olhar no dela, para nunca mais esquecer a cor de seus olhos.

E assim fiz. Voltei, aflita, mas satisfeita. Vivia a sensação de estar cumprindo um ritual, em que a oferenda aos Orixás deveria ser descoberta da cor dos olhos de minha mãe.

E quando, após longos dias de viagem para chegar à minha terra, pude contemplar extasiada os olhos de minha mãe, sabem o que vi? Sabem o que vi?

Vi só lágrimas e lágrimas. Entretanto, ela sorria feliz. Mas, eram tantas lágrimas, que eu me perguntei se minha mãe tinha olhos ou rios caudalosos sobre a face? E só então compreendi. Minha mãe trazia, serenamente em si, águas correntezas. Por isso, prantos e prantos a enfeitar o seu rosto. A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d’água. Águas de Mamãe Oxum! Rios calmos, mas profundos e enganosos para quem contempla a vida apenas pela superfície. Sim, águas de Mamãe Oxum.

Abracei a mãe, encostei meu rosto no dela e pedi proteção. Senti as lágrimas delas se misturarem às minhas.

Hoje, quando já alcancei a cor dos olhos de minha mãe, tento descobrir a cor dos olhos de minha filha. Faço a brincadeira em que os olhos de uma são o espelho dos olhos da outra. E um dia desses me surpreendi com um gesto de minha menina. Quando nós duas estávamos nesse doce jogo, ela tocou suavemente o meu rosto, me contemplando intensamente. E, enquanto jogava o olhar dela no meu, perguntou baixinho, mas tão baixinho como se fosse uma pergunta para ela mesma, ou como estivesse buscando e encontrando a revelação de um mistério ou de um grande segredo. Eu escutei, quando, sussurrando minha filha falou:

Mãe, qual é a cor tão úmida de seus olhos?




Pesquisado dia 16/11/2021 em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/24-textos-das-autoras/929-conceicao-evaristo-olhos-d-agua

domingo, 14 de novembro de 2021

Consciência Negra - Amaro 2021




Como muitos de vocês devem saber, fui aluna desta faculdade, há muitas luas. Eu me sentava nessas mesmas cadeiras (às vezes ainda com o pijama sob o casaco) e olhava para a luz que entra por estas janelas. Eu ouvia dezenas de palestras encorajadoras e cantei e ouvi música maravilhosa. Acho que sentia que ia voltar para falar deste lado do pódio. Acho que naquele tempo, quando eu estudava aqui, adolescente ainda, eu já pensava no que diria a vocês, hoje.

Talvez os surpreenda saber que não pretendo falar (talvez até o período de perguntas e respostas) sobre guerra e paz, economia, racismo ou sexismo, ou sobre os triunfos e atribulações dos negros ou das mulheres. Nem sobre filmes. Embora os mais atentos possam ouvir em minhas palavras a preocupação por alguns desses assuntos, vou falar sobre algo muito mais perto de nós. Vou falar sobre cabelo. Não se preocupem com o estado dos seus cabelos neste momento.

Não fiquem alarmados. Não se trata de uma avaliação. Simplesmente quero compartilhar com vocês algumas experiências com nosso amigo cabelo, e espero entreter e divertir a todos.

Durante um longo tempo, desde a primeira infância até a idade adulta crescemos física e espiritualmente (incluindo o intelecto com o espírito), sem que nos demos muito conta do fato. Na verdade, alguns períodos do nosso crescimento são tão confusos, que nem percebemos que se trata de crescimento. Podemos nos sentir hostis, zangados, chorosos ou histéricos, ou deprimidos. Jamais nos ocorre, a não ser que encontremos por acaso um livro ou uma pessoa capaz de explicar, que estamos em processo de mudança, de crescimento espiritual. Sempre que crescemos, sentimos, como a semente nova deve sentir o peso e a inércia da terra, quando procura sair da casca para se transformar numa planta. Geralmente não é uma sensação agradável. Porém, o mais desagradável é não saber o que está acontecendo. Lembro-me das ondas de ansiedade que me envolviam nos diferentes períodos de minha vida, sempre se manifestando por meio de distúrbios físicos (insônia, por exemplo) e como eu ficava assustada, porque não entendia como aquilo era possível.

Com a idade e a experiência, vocês ficarão satisfeitos em saber, o crescimento torna-se um processo consciente e reconhecido. Ainda um pouco assustador, mas pelo menos compreendido. Aqueles longos períodos, quando algo dentro de nós parece estar esperando, contendo a respiração, sem saber qual será o próximo passo, com o tempo transformam-se em períodos esperados, pois enquanto ocorrem, compreendemos que estamos sendo preparados para a próxima fase da nossa vida e que provavelmente vai se revelar um novo nível de personalidade.

Alguns anos atrás passei por um longo período de inquietação, disfarçado em imobilidade. Isto é, isolei-me do grande mundo a favor da paz do meu mundo pessoal, muito menor. Eu me desliguei da televisão e dos jornais (um grande alívio!), dos membros mais perturbadores da minha grande família, e da maioria dos amigos. Era como se eu tivesse chegado a um teto no meu cérebro. E sob esse teto minha mente estava extremamente inquieta, embora tudo em mim estivesse calmo.

Como é comum nesses períodos de introspecção, contei as contas do meu progresso neste mundo. No relacionamento com a família e os antepassados eu agira respeitosamente (nem todos concordarão, acredito); no meu trabalho eu havia feito, usando toda a habilidade de que disponho, tudo que era exigido de mim; no relacionamento com as pessoas com quem convivo diariamente, eu agira com todo amor que podia encontrar no meu íntimo, Eu começava também, finalmente, a reconhecer minha responsabilidade para com a Terra c minha adoração do Universo. O que mais então eu devia fazer? Por que, quando eu meditava e procurava o alçapão de escape no alto do meu cérebro, o qual, nos outros estágios do crescimento, eu sempre tive a sorte de encontrar, só achava agora um teto, como se o caminho para me identificar com o infinito, o caminho que eu costumava trilhar, estivesse selado?

Certo dia, depois de ter feito ansiosamente essa pergunta durante um ano, ocorreu-me que, no meu ser físico, havia uma última barreira para minha libertação espiritual, pelo menos naquela fase: meu cabelo.

Não meu amigo cabelo propriamente, pois logo percebi que ele era inocente. O problema era o modo pelo qual eu me relacionava com ele. Eu estava sempre pensando nele. Tanto que, se meu espírito fosse um balão, ansioso para voar e se confundir com o infinito, meu cabelo seria a pedra que o ancoraria à Terra. Compreendi que seria impossível continuar meu desenvolvimento espiritual, impossível o crescimento da minha alma, impossível poder olhar para o Universo e esquecer meu ego completamente nesse olhar (uma das alegrias mais puras!) se continuasse presa a pensamentos sobre meu cabelo. Compreendi de repente porque freiras e monges raspam as cabeças!

Olhei no espelho e comecei a rir de felicidade! Tinha conseguido abrir a pele da semente e estava subindo dentro da terra.

Então comecei as experiências. Durante alguns meses usei longas tranças (era moda entre as mulheres negras na época) feitas com o cabelo de mulheres coreanas. Eu adorava isso. Realizava minha fantasia de ter cabelos longos e dava ao meu cabelo curto e levemente processado (oprimido) a oportunidade de crescer. A jovem que trançava meu cabelo era uma pessoa que eu acabei adorando – uma jovem mãe lutadora; ela e a filha chegavam à minha casa às sete da noite e conversávamos, ouvíamos música, comíamos pizzas ou burritos, enquanto ela trabalhava, até uma ou duas horas da manhã. Eu adorava o artesanato dos desenhos criados por ela para a minha cabeça. (Trabalho de cesteiro! exclamou uma amiga, tocando a teia intrincada na minha cabeça.) Eu adorava sentar entre os joelhos dela como sentava entre os joelhos de minha mãe e de minha irmã enquanto elas trançavam meu cabelo, quando eu era pequena. Eu adorava o fato do meu cabelo crescer forte e saudável sob as “extensões”, coma eram chamadas as tranças.

Eu adorava pagar a uma jovem irmã por um trabalho realmente original e que fazia parte da tradição do penteado dos negros. Eu adorava o fato de não precisar tratar do meu cabelo a não ser com intervalos de dois ou três meses (pela primeira vez na vida eu podia lavar a cabeça todos os dias, se quisesse, e não fazer nada mais). Porém, uma vez ou outra as tranças tinham de ser retiradas (um trabalho de quatro a sete horas) e feitas novamente (mais sete a oito horas); também eu não me esquecia das mulheres coreanas que, de acordo com minha jovem cabeleireira, deixavam crescer o cabelo expressamente para vender. É claro que essa informação me fez pensar (e, sim, me preocupar) sobre os outros aspectos de suas vidas.

Quando meu cabelo atingiu dez centímetros de comprimento, dispensei o cabelo das minhas irmãs coreanas e trancei o meu. Só então renovei o conhecimento com suas características naturais. Descobri que era flexível, macio reagindo quase com sensualidade à umidade. Com as pequenas tranças girando para todos os lados, menos para onde eu queria que virassem, descobri que meu cabelo era voluntarioso, exatamente como eu! Vi que meu amigo cabelo, tendo recuperado vida própria, tinha senso de humor. Descobri que eu gostava dele.

Mais uma vez na frente do espelho, olhei para minha imagem e comecei a rir. Meu cabelo era uma dessas criações estranhas, incríveis, surpreendentes, de parar o tráfego – um pouco parecido com as listras das zebras, com as orelhas do tatu ou os pés azul-elétrico do mergulhão – que o universo cria sem nenhum motivo especial a não ser demonstrar sua imaginação ilimitada. Compreendi que jamais tivera a oportunidade de apreciar o cabelo em sua verdadeira natureza. Descobrir que ele, na verdade, tinha uma natureza própria. Lembrei-me dos anos que passei agüentando cabeleireiros – desde o tempo de minha mãe – que faziam trabalho missionário nos meus cabelos. Eles dominavam, suprimiam, controlavam. Agora, mais ou menos livre, ele ficava todo espetado para todos os lados. Eu telefonava para todos meus amigos no país para relatar as travessuras do meu cabelo. Ele jamais pensava em ficar deitado. Deitar de costas, na posição missionária, não o interessava. Ele cresceu. Ficar curto, cortado quase até a raiz, outra “solução” missionária, também não o interessava. Ele procurava espaços cada vez maiores, mais luz, mais dele mesmo. Ele adorava ser lavado; mas isso era tudo.

 

Finalmente descobri exatamente o que o cabelo queria: queria crescer, ser ele mesmo, atrair poeira, se esse era seu destino, mas queria ser deixado em paz por todos, incluindo eu mesma, os que não o amavam como ele era. O que acham que aconteceu? (Além disso, agora eu podia, como um bônus adicional, compreender Bob Marley como o místico que suas músicas diziam que era). O teto no alto do meu cérebro abriu-se; mais uma vez minha mente (e meu espírito) podia sair de dentro de mim. Eu não estaria mais presa à imobilidade inquieta, eu continuaria a crescer. A planta estava acima do solo.

Essa foi a dádiva do meu crescimento, no meu quadragésimo ano. Isso e saber que enquanto existir alegria na criação haverá sempre novas criações para descobrir, ou redescobrir, e que o melhor lugar para olhar é dentro de nós mesmos. Que a própria morte, sendo parte da vida, deve oferecer pelo menos um momento de prazer.

Fiz esta palestra no Dia dos Fundadores, 11 de abril de 1987, no Spelman College, Atlanta

Pesquisado 15/11/2021 em https://www.geledes.org.br/cabelo-oprimido-e-um-teto-para-o-cerebro/



 

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

A África e a Escravidão Moderna


A escravidão moderna foi iniciada no século XV, e serviu de alicerce da colonização entre o Novo Mundo e o Capitalismo mercantilista, formando o comércio triangular entre Europa, Américas e África. Diferente da escravidão na Antiguidade, que acontecia em função do não pagamento de dívidas ou resultados de guerras e não se dava por toda a vida.

A dizimação de grande parte da população ameríndia e a proibição da escravização indígena no começo do século XVI, transformou o africano em escravizado, e foi alternativa lucrativa para os europeus. Os portugueses, que investiram massivamente na expansão marítima, foram os primeiros europeus a explorar a África ocidental.

A partir do início do século XV queriam ter acesso direto ao ouro africano que chegava à Europa pelas mãos dos muçulmanos  e se interessavam também pelo comércio com o Oceano Índico, que neste período foi controlado pelos italianos e  muçulmanos.

 Em meio às guerras das Cruzadas, o mediterrâneo era o caminho mais fácil para chegar ao Oriente (Índias), que por sua vez, estava sob controle dos muçulmanos, e eram inimigos dos religiosos católicos. Por isso, os portugueses resolveram contornar todo o continente africano para chegar à Ásia.

Em 1434, as expedições portuguesas aportaram na região da Guiné onde viviam os povos africanos iorubás, edos e acans,  e em seguida chegaram ao Congo. Ao chegar ao Congo, guerrearam contra os povos africanos, que eram soberanos e possuíam muito ouro, mas os portugueses não conseguiram comprar todo o ouro que precisavam para manter sua economia mercantil em disputa na Europa. Sendo assim, transferiram seus interesses  para a escravização dos africanos. As elites das sociedades africanas que habitavam as regiões próximas ao litoral, passaram a escravizar e comercializar africanos por produtos vindos da Europa, como o veludo e as armas de fogo para revender e guerrear.

Ainda no século XV, os portugueses compraram um grande número de africanos que seriam vendidos para outras sociedades europeias, ou então utilizados como mão-de-obra na produção de cana-de-açúcar na Ilha da Madeira em Portugal.

Os portugueses encontraram então, justificativas econômicas para escravizar os africanos, mas com respaldo da igreja católica, que tinha interesse em cristianizar "infiéis" e ampliar seu rebanho, como foi o caso do Papa Nicolau V que em 1454, publicou uma bula papal, que deu forma à aliança entre a igreja e o estado português para escravizar os africanos.

Com a conversão do rei do Congo ao catolicismo, as primeiras grandes levas de africanos escravizados, saíram da região que hoje corresponde aos países de Congo e Angola. Entre  os séculos XVI e XVII, além dos portugueses, os franceses, holandeses e ingleses também passaram a comprar africanos para escravizar na Costa do Ouro, atual país de Gana, habitado por sociedades africanas fantis e mandingas.

Nos séculos XVII e XVIII, europeus e brasileiros passaram a escravizar também os africanos no Golfo do Benim, e no século XIX e reacendeu com força a escravização na região Congo-angolana.

Cerca de 42% do total dos africanos foram escravizados por embarcações inglesas, seguido por 26% de  Portugal e Brasil; e 14,8% por navios franceses; 4,5% de embarcações dos Estados Unidos, os holandeses traficaram 4,1% e espanhóis 0,8% usaram suas embarcações  para  tráfico de africanos.


Na Senegâmbia, os africanos eram embarcados principalmente nos portos de Arguim e Cabo Verde, onde fica a cidade de Dakar, sendo trocados por algodão, cavalos e sal. Na Costa do ouro, objetos de ferro e tecidos comercializados no Índico eram trocados por africanos principalmente no porto de Anomabu. Na Costa dos Escravos,  os portos de Ajudá,  Porto Novo, Lagos, Afra,  Popo Grande e Jakin eram os principais pontos de embarque de africanos,  trocados principalmente por sal, algodão e cavalos. Nos portos de Pinda e Cabinda, no Congo, os africanos eram trocados por armas, pólvora,  tecidos de algodão, seda, cachaça e porcelana. Nos portos de Luanda e Benguela a troca era feita por cachaça, contas de vidro, tecidos, facas e trigo. Em Moçambique, os escravos,  embarcados principalmente em Quelimane, Quiloa e Inhambane, eram trocados por armas, pólvora e algodão.

O apogeu do tráfico foi atingido no século XVIII, com a crescente demanda de produtos tropicais na Europa. Entre 1781 e 1790, importaram-se mais de 80.000 escravos por ano, estando envolvidos no tráfico, os ingleses, franceses, espanhóis, portugueses, holandeses e dinamarqueses. Foi também durante o século XVIII que surgiram coletivamente os primeiros abolicionistas, por motivos religiosos ou iluministas e, sobretudo, porque a partir da Revolução Industrial e de suas transformações na produção e no mercado de trabalho, a escravidão tornou-se obsoleta neste processo de modernização.

Só em 1803 a Dinamarca aboliu o comércio de escravos, seguindo-se a Inglaterra em 1807, a França em 1817, a Holanda em 1818, a Espanha em 1820 e a Suécia em 1824. Nas colônias britânicas, a escravidão foi finalmente abolida em 1833, nas holandesas em 1863 e o Brasil apenas após 1888.


Ouça também em:

https://anchor.fm/fabola-lendo-histria/episodes/A-frica-e-a-Escravido-Moderna-e1jbd2k


Fontes:


SANTOS, Ynaê L.História da África e do Brasil afrodescendente. 1a. Edição, Pallas, 2017.

Pesquisado 20/10/2021 em:https://www.ufrgs.br/cdrom/depestre/escravidao.htm

Pesquisado 21/11/2021 em:https://www.geledes.org.br/escravizacao-de-africanos/

Pesquisado 21/11/2021 em:https://www.todamateria.com.br/trafico-negreiro/

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

As lutas pela Independência cubana

 Cuba deu início a  luta por Independência em outubro de 1868, quando o advogado e proprietário de terras, Carlos Manuel de Céspedes fez uma declaração formal contra a dominação da metrópole espanhola.

Este episódio conhecido como  "Grito de Yara" marcou a eclosão da Primeira Guerra de independência do país, a guerra de "Dez anos" (1868 -1878) sob a liderança do próprio Carlos Manuel de Céspedes,  Antônio Maceo,  Máximo Gomez e Calixto Garcia.



A guerra dos Dez Anos, para além de uma guerra civil entre os que defendiam a independência ou  a permanência  como colônia, foi também uma guerra que girou em torno da questão da abolição da escravidão.

A parte ocidental do país, majoritariamente branca e produtora de açúcar, era contra a abolição, e por ser racista,  perdeu uma aliança decisiva da população negra para se tornar independente dos espanhóis.


Por isso, os exércitos independentistas, também conhecidos como Mambises, tomaram diversas cidades no oriente e no centro do país, mas não conseguiram se expandir para o ocidente.


 Os mambises lutaram e resistiram por dez anos, mas com  a repressão dos exércitos espanhóis, acabaram se rendendo em 1878, com assinatura do Pacto de Zanjón , que em troca da deposição de armas rebeldes, os espanhóis os anistiaram, libertaram os escravos que lutaram pela independência, e prometeram reformas políticas. Era o fim da guerra dos Dez Anos, mas a colonização e a escravidão permaneceram intactas.


Inconformados com o desfecho da guerra, Antonio Maceo e Calixto Garcia investiram seus esforços numa segunda guerra de independência -  A Guerra Chiquita. 

Esta segunda tentativa, teve início em agosto de 1879 e foi derrubada em agosto de 1880 em função do desgaste dos rebeldes, da falta de recursos, inclusive de armas, e sobretudo em função da abolição da escravidão não ter sido acolhida.

A reação espanhola, aproveitando-se da divergência existente na sociedade sobre a questão da abolição, tratou de inserir o medo do  "haitianismo", que se tratava do medo das elites brancas da luta por abolição vir junto da luta por Independência, do modo como aconteceu no Haiti, o que levou ao enfraquecimento cada vez maior na luta por independência em Cuba.


Imagem pesquisada dia  23/08/2021 em:https://www.coladaweb.com/historia/independencia-de-cuba


 Já a terceira guerra de independência foi organizada com os diferentes projetos políticos em disputa. Com início em 1895, sob a   liderança de José Martí, que saiu de Nova York ao encontro de Máximo Gomes em São Domingos,  assinaram o Manifesto de Montes Christi em 25 de março de 1895, e embarcaram rumo à parte oriental de Cuba.

 No entanto, José Martí foi morto apenas seis meses após o desembarque na província de Guantánamo numa emboscada espanhola em 19 de maio de 1895.


Neste ano de 1895 havia três diferentes projetos políticos em disputa em Cuba: os autonomistas, eram a minoria e defendiam a manutenção dos laços com Espanha;  já os anexionistas defendiam anexação aos Estados Unidos, e um terceiro grupo inspirado pelos ideais de José Martí, defendiam a soberania do povo cubano e alertavam sobre as pretensões imperialistas dos Estados Unidos. 


A guerra pela independência foi se espalhando pela província do oriente e avançou em direção ao centro da Ilha. Enfrentaram os espanhóis em sangrentas batalhas, invadiram grandes propriedades e queimaram plantações, sobretudo as de cana-de-açúcar. Assim tomaram Camaguey, Sancti Spíritus, Santa Clara Trindad quando conseguiram adentrar no lado ocidental da Ilha.


Em fevereiro de 1898, quando a guerra já estava praticamente vencida, um encouraçado estadunidense, ancorado no Porto de Havana, o Maine, explodiu e matou cerca de 250 marinheiros. O governo dos Estados Unidos acusou os espanhóis de terem provocado a explosão e após um mês, o congresso do país com apoio do presidente William Mc Kinley aprovou formalmente a guerra contra os espanhóis pelo direito de Cuba ser livre e independente exigindo que Espanha renunciasse poder sobre Cuba, aprovando  a "Emenda Teller"  que tratava de uma conquista dos exilados contra anexação de Cuba pelos Estados Unidos. 

Acreditava-se que a Emenda Teller foi um meio de justificativa de entrada dos Estados Unidos no conflito para pôr em prática a pretensão imperialista. 


Os cubanos que vinham lutando por três anos, com três insurreições seguidas, tiveram a vitória tirada das mãos com a explosão. 

O desfecho se deu com a assinatura do Tratado de Paris em dezembro de 1898, quando representantes dos Estados Unidos e da Espanha se reuniram na cidade francesa sem representação cubana, e estabeleceram as  cláusulas da rendição espanhola. Com este tratado, definiram que Cuba e também Filipinas, Porto Rico e Ilha de Guam seriam entregues aos Estados Unidos.


Com isso, a ocupação militar dos Estados Unidos teve início em 1899 que manteve vigente a legislação colonial espanhola, além de acordos políticos e econômicos com as elites açucareiras. Os Estados Unidos se comprometeram  a não exercer controle sobre Cuba, mas em 1900 trataram de fazer acordo com as elites locais nas primeiras eleições e estabeleceram que os votantes seriam homens maiores de 20 anos e proprietários de  mínimo 250 dólares, deixando os cubanos dependentes e empobrecidos.


As lutas pela Independência no México

 



Nova Espanha era o México de hoje. A luta pela independência se deu com violência pelos espanhóis. Por isso, após 1815 a luta que possuía um caráter social e racial( com indígenas e mestiços), passou a ter direção das elites criollas, eliminando a possibilidade de reforma agrária. Em 1811 estourou uma revolta camponesa liderada pelo padre Miguel Hidalgo, com grande exército camponês. As tropas espanholas e as elites criollas derrotaram os camponeses com extrema violência. 

Em 1813 sob a direção de padre Morelos houve  outra rebelião. Embora a cúpula da igreja católica  estivesse ao lado das elites, esta rebelião apontava a independência com distribuição de terras, fim da escravidão, direitos e governo democrático.

 Em 1815 chegaram mais tropas da Espanha e houve fuzilamento e massacre. Dessa forma, o militar Agustín Itúrbide, propôs o plano de Iguala, que previa uma monarquia católica independente na América. Este plano agradou a igreja católica e as elites criollas. Dois anos depois, Itúrbide foi deposto e a República foi proclamada. Dessa forma, conservadores e liberais passaram a disputar o poder no México. Os conservadores, vinculados a igreja católica representavam os grandes proprietários de terras e buscavam a manutenção das estruturas de poder do período colonial. Já os liberais queriam o fim dos privilégios dos latifundiários e defendiam a liberdade de comércio e de expressão, igualdade jurídica, reforma agrária e modernização da produção e das relações de trabalho.

 Em 1850 os liberais assumiram  o poder  com intuito de criar uma classe de pequenos proprietários para renovar a agricultura mexicana, aprovando uma Constituição em 1857. No entanto, a constituição permitiu que as terras indígenas fossem expropriadas. Houve resistência, mas a igreja manteve à força suas propriedades.

 Em 1876, Porfírio Díaz assumiu a presidência do México e ficou 35 anos no poder. Aos 80 anos candidatou-se novamente. Com desconfiança, as oposições denunciaram fraudes eleitorais. 


Francisco Madero, candidato da oposição, se candidatou defendendo a  não reeleição obtendo apoio popular, mas foi acusado de incitação à rebelião sendo encarcerado. Porfírio então foi reeleito. Madero foi libertado e exilou-se nos Estados Unidos e lá escreveu um projeto liberal que convocava  a população mexicana a se rebelar contra  o porfiriato. com o plano de São Luis Potosí que ganhou adesão de setores populares como operários e camponeses, dando início à Revolução Mexicana. 

As principais lideranças  eram Pascual Orozco e o camponês Pancho Villa no norte do país. 

No Sul surge a liderança de Emiliano Zapata. Defendiam a retomada das terras indígenas e a Reforma Agrária. 

Os combates tomaram todo o país levando  a renúncia  e ao exílio de Porfírio Diaz em maio de 1911, quando um governo provisório foi formado até que fossem  convocadas novas eleições. Francisco Madero foi eleito, mas não realizou a Reforma Agrária, como era necessário.

 A oposição se reorganizou em torno de Emiliano Zapata e propôs o Plano de Ayala em novembro de 1911. Madero acabou deposto e fuzilado por porfiristas apoiados pelos Estados Unidos em 1913.


Ouça a leitura do texto no podcast:

https://anchor.fm/fabola-lendo-histria/episodes/A-frica-e-a-Escravido-Moderna-e1jbd2k

Independência dos Estados Unidos

 As treze colônias tiveram liberdade política e comercial até o século XVIII. Mas a partir da guerra de sucessão espanhola (1703-1713); sucessão austríaca (1740-1768) e Guerra dos Sete Anos (1756-1763), a Inglaterra participou e teve muitos gastos, e por isso passou a exercer forte controle político sobre as suas colônias. 

Em 1764  a Inglaterra estabeleceu a lei do açúcar, restringindo a liberdade das colônias no comércio triangular, criando impostos e com a lei do selo, instituindo novo tributo sobre documentos legais e textos impressos que circulavam nas colônias, assim como a lei do chá (1763) que concedeu monopólio às índias orientais para taxar e controlar este lucrativo comércio, estabelecendo fiscalização nas alfândegas para dificultar o contrabando.

Os colonos expressavam insatisfação contra a metrópole, como foi o caso da associação feminina da liberdade, criada contra a lei do selo e que incentivava as mulheres a costurar suas próprias roupas e as de suas famílias, em vez de comprar dos ingleses.

Em dezembro de 1773, colonos vestidos de indígenas destruíram toda a carga de navios ingleses atracados no porto de Boston, conhecida como a festa do chá de Boston. A Inglaterra reagiu com um conjunto de leis chamadas pelos colonos de “Leis Intoleráveis”, que entre outras medidas estabeleceu o fechamento do porto de Boston até que os prejuízos fossem ressarcidos. Tais medidas acabaram sendo o estopim do processo de independência das treze colônias.

 Em 1774 o primeiro congresso continental da Filadélfia reuniu representantes das colônias inglesas.

Em 1775, representantes das Treze colônias se reuniram no segundo congresso da Filadélfia, no qual decidiram proclamar a independência. Uma comissão liderada por Thomas Jefferson, rico fazendeiro da Virginia, foi encarregado de redigir a declaração de independência que foi aprovada em 4 de julho de 1776, inspirado nas ideias iluministas.

 A declaração de independência mencionava igualdade e liberdade, mas matinha a escravidão, como foi o caso das colônias do sul. Os escravistas argumentavam com a ideia de direito a propriedade para defender a escravidão. A liberdade também não contemplava mulheres nem indígenas.

As guerras de independência se estenderam até 1781. Os colonos contaram com o apoio francês e espanhol, rivais dos ingleses. O reconhecimento formal da independência se deu apenas em 1783 por meio do tratado de Paris. 

A partir de então, o governo iniciou uma expansão territorial com a ideologia do “Destino Manifesto” (no qual defendia que o país estava destinado a se expandir até o pacifico), pois era um país escolhido por deus para levar a democracia e os valores cristãos aos territórios indígenas através do pensamento religioso-puritanista que sustentava ainda “A boa conduta moral” relacionado ao progresso econômico.



Pesquisada 23/08/2021, em: https://escola.britannica.com.br/artigo/Guerra-de-Independ%C3%AAncia-dos-Estados-Unidos/480590

Houve devastação territorial com a ampliação dos latifúndios agrícolas, desenvolvendo o norte e o centro-oeste dos Estados Unidos, principalmente no século XIX. Era a marcha para o Oeste, com migração em massa, pois haviam sido encontradas jazidas de ouro, o que levou a milhares de indígenas mortos.

Em 1830 o presidente Andrew Jackson promulgou a “Lei de Remoção Indígena” deslocando-os de Cherokee para o atual estado de Oklahoma, com muitos indígenas mortos, tais como os Choctaw, os Creek e os Chickasaw, povos indígenas que foram deslocados para outras áreas delimitadas pelo governo.

Os indígenas resistiram. Uma das maiores batalhas foi a de Little Bighorn em 1876 numa aliança entre Cheyenne e Sioux, derrotando o exército estadunidense. Apesar da resistência indígena, um século depois, houve o extermínio das populações nativas dos  Estados Unidos.

Atualmente há 560 tribos indígenas nos Estados Unidos, onde vivem descendentes dos indígenas que sobreviveram. Nestas reservas os indígenas mantêm um sistema judicial policial próprios e administram escolas, hospitais e redes comerciais. No entanto, cerca de 70 por cento dos aproximadamente 4 milhões de indivíduos que se identificam com indígenas não vivem em reservas. 



domingo, 25 de julho de 2021

A lutas por Independência na América Espanhola


Vimos no bimestre anterior que a França  revolucionária sofreu um golpe: O golpe de Napoleão Bonaparte. Este golpe  levou a invasão de Napoleão também nas Américas e levou as nações latino-americanas a ter que lutar por Independência.

A América espanhola estava dominada pelo poder político dos chapetones (elites europeias que  administraram os interesses dos colonizadores nas américas)  e ocupavam altos  cargos político-administrativos. Já as elites criollas (filhos de espanhóis nascidos nas colônias), não tinham a confiança dos reis, mas faziam parte da  elite econômica e viviam nas próprias colônias. Estes últimos só participavam do poder político das metrópoles nos cabildos (uma espécie de câmara municipal com poder político limitado).




Quando aconteceu  a invasão napoleônica na Espanha, com a queda de Carlos IV,  assumiu o irmão de Napoleão, José Bonaparte, que queria  mais liberdade nas colônias. Desta forma, os cabildos se transformam em juntas insurrecionais das elites criollas a partir de 1808  até 1815. Nestas juntas, estas elites não tinham acordo sobre como deveria ser o poder colonial, pois seus interesses eram diferentes. Alguns criollos apoiavam as monarquias, pois acreditavam que os reis os apoiariam e que ganhariam a confiança dos reis após a restituição do poder dos reis nas metrópoles. Outras  elites criollas discordavam deste posicionamento, pois entendiam que este era um momento importante para que as colônias ganhassem mais poder político, mas havia ainda um  outro posicionamento, de uma  minoria, que vai defender a independência, como foi o caso  do Bernardo no Chile, Morellos no México e Francisco Miranda na Venezuela. Os exércitos espanhóis intervieram e reprimiram  a independência. Após 1815, com a  restauração  monárquica no Congresso de Viena, Fernando VII assumiu o trono espanhol e retomou o poder autoritário e absolutista, o que gerou um clima de insatisfação desta elite que se prepara para lutar pela independência nas Américas.


Fonte: http://pt.slideshare.net/zezesilva/independencia-da-america-espanhola

 A Inglaterra possui interesse em acabar com a exclusividade  do comércio colonial nas Américas e apoia a independência. Há uma conquista de Independência até 1828, com a Independência  do Uruguai após a Guerra Cisplatina. Simon Bolívar surgiu como liderança na luta pela independência nas Américas defendendo o pan-americanismo, ou bolivarianismo, como forma de se tornar independente.  Os diferentes interesses no continente americano contarão com forte  oposição dos Estados Unidos, do Brasil, e com a interferência da Inglaterra, ficando a América fragmentada e marcada pelo caudilhismo. A América Espanhola se consolidou com  Repúblicas fragmentadas após as lutas por Independência, contra o Império do Brasil e dos Estados Unidos.


*Quais são as principais características deste contexto histórico em âmbito internacional?

*Identifique os diferentes posicionamentos nos cabildos na disputa política e econômica pelas independências:

  As lutas por Independência em Cuba

 Cuba deu início a  luta por Independência em outubro de 1868, quando o advogado e proprietário de terras, Carlos Manuel de Céspedes fez uma declaração formal contra a dominação da metrópole espanhola.

Este episódio conhecido como  "Grito de Yara" marcou a eclosão da Primeira Guerra de independência do país, a guerra de "Dez anos" (1868 -1878) sob a liderança do próprio Carlos Manuel de Céspedes,  Antônio Maceo,  Máximo Gomez e Calixto Garcia.



A guerra dos Dez Anos, para além de uma guerra civil entre os que defendiam a independência ou  a permanência  como colônia, foi também uma guerra que girou em torno da questão da abolição da escravidão.

A parte ocidental do país, majoritariamente branca e produtora de açúcar, era contra a abolição, e por ser racista,  perdeu uma aliança decisiva da população negra para se tornar independente dos espanhóis.


Por isso, os exércitos independentistas, também conhecidos como Mambises, tomaram diversas cidades no oriente e no centro do país, mas não conseguiram se expandir para o ocidente.


 Os mambises lutaram e resistiram por dez anos, mas com  a repressão dos exércitos espanhóis, acabaram se rendendo em 1878, com assinatura do Pacto de Zanjón , que em troca da deposição de armas rebeldes, os espanhóis os anistiaram, libertaram os escravos que lutaram pela independência, e prometeram reformas políticas. Era o fim da guerra dos Dez Anos, mas a colonização e a escravidão permaneceram intactas.


Inconformados com o desfecho da guerra, Antonio Maceo e Calixto Garcia investiram seus esforços numa segunda guerra de independência -  A Guerra Chiquita. 

Esta segunda tentativa, teve início em agosto de 1879 e foi derrubada em agosto de 1880 em função do desgaste dos rebeldes, da falta de recursos, inclusive de armas, e sobretudo em função da abolição da escravidão não ter sido acolhida.

A reação espanhola, aproveitando-se da divergência existente na sociedade sobre a questão da abolição, tratou de inserir o medo do  "haitianismo", que se tratava do medo das elites brancas da luta por abolição vir junto da luta por Independência, do modo como aconteceu no Haiti, o que levou ao enfraquecimento cada vez maior na luta por independência em Cuba.


Imagem pesquisada dia  23/08/2021 em:https://www.coladaweb.com/historia/independencia-de-cuba


 Já a terceira guerra de independência foi organizada com os diferentes projetos políticos em disputa. Com início em 1895, sob a   liderança de José Martí, que saiu de Nova York ao encontro de Máximo Gomes em São Domingos,  assinaram o Manifesto de Montes Christi em 25 de março de 1895, e embarcaram rumo à parte oriental de Cuba.

 No entanto, José Martí foi morto apenas seis meses após o desembarque na província de Guantánamo numa emboscada espanhola em 19 de maio de 1895.


Neste ano de 1895 havia três diferentes projetos políticos em disputa em Cuba: os autonomistas, eram a minoria e defendiam a manutenção dos laços com Espanha;  já os anexionistas defendiam anexação aos Estados Unidos, e um terceiro grupo inspirado pelos ideais de José Martí, defendiam a soberania do povo cubano e alertavam sobre as pretensões imperialistas dos Estados Unidos. 


A guerra pela independência foi se espalhando pela província do oriente e avançou em direção ao centro da Ilha. Enfrentaram os espanhóis em sangrentas batalhas, invadiram grandes propriedades e queimaram plantações, sobretudo as de cana-de-açúcar. Assim tomaram Camaguey, Sancti Spíritus, Santa Clara Trindad quando conseguiram adentrar no lado ocidental da Ilha.


Em fevereiro de 1898, quando a guerra já estava praticamente vencida, um encouraçado estadunidense, ancorado no Porto de Havana, o Maine, explodiu e matou cerca de 250 marinheiros. O governo dos Estados Unidos acusou os espanhóis de terem provocado a explosão e após um mês, o congresso do país com apoio do presidente William Mc Kinley aprovou formalmente a guerra contra os espanhóis pelo direito de Cuba ser livre e independente exigindo que Espanha renunciasse poder sobre Cuba, aprovando  a "Emenda Teller"  que tratava de uma conquista dos exilados contra anexação de Cuba pelos Estados Unidos. 

Acreditava-se que a Emenda Teller foi um meio de justificativa de entrada dos Estados Unidos no conflito para pôr em prática a pretensão imperialista. 


Os cubanos que vinham lutando por três anos, com três insurreições seguidas, tiveram a vitória tirada das mãos com a explosão. 

O desfecho se deu com a assinatura do Tratado de Paris em dezembro de 1898, quando representantes dos Estados Unidos e da Espanha se reuniram na cidade francesa sem representação cubana, e estabeleceram as  cláusulas da rendição espanhola. Com este tratado, definiram que Cuba e também Filipinas, Porto Rico e Ilha de Guam seriam entregues aos Estados Unidos.


Com isso, a ocupação militar dos Estados Unidos teve início em 1899 que manteve vigente a legislação colonial espanhola, além de acordos políticos e econômicos com as elites açucareiras. Os Estados Unidos se comprometeram  a não exercer controle sobre Cuba, mas em 1900 trataram de fazer acordo com as elites locais nas primeiras eleições e estabeleceram que os votantes seriam homens maiores de 20 anos e proprietários de  mínimo 250 dólares, deixando os cubanos dependentes e empobrecidos.


As lutas de Independência no México


Nova Espanha era o México de hoje. A luta pela independência se deu com violência pelos espanhóis. Por isso, após 1815 a luta que possuía um caráter social e racial( com indígenas e mestiços), passou a ter direção das elites criollas, eliminando a possibilidade de reforma agrária. Em 1811 estourou uma revolta camponesa liderada pelo padre Miguel Hidalgo, com grande exército camponês. As tropas espanholas e as elites criollas derrotaram os camponeses com extrema violência. 

Em 1813 sob a direção de padre Morelos houve  outra rebelião. Embora a cúpula da igreja católica  estivesse ao lado das elites, esta rebelião apontava a independência com distribuição de terras, fim da escravidão, direitos e governo democrático.

 Em 1815 chegaram mais tropas da Espanha e houve fuzilamento e massacre. Dessa forma, o militar Agustín Itúrbide, propôs o plano de Iguala, que previa uma monarquia católica independente na América. Este plano agradou a igreja católica e as elites criollas. Dois anos depois, Itúrbide foi deposto e a República foi proclamada. Dessa forma, conservadores e liberais passaram a disputar o poder no México. Os conservadores, vinculados a igreja católica representavam os grandes proprietários de terras e buscavam a manutenção das estruturas de poder do período colonial. Já os liberais queriam o fim dos privilégios dos latifundiários e defendiam a liberdade de comércio e de expressão, igualdade jurídica, reforma agrária e modernização da produção e das relações de trabalho.

 Em 1850 os liberais assumiram  o poder  com intuito de criar uma classe de pequenos proprietários para renovar a agricultura mexicana, aprovando uma Constituição em 1857. No entanto, a constituição permitiu que as terras indígenas fossem expropriadas. Houve resistência, mas a igreja manteve à força suas propriedades.

 Em 1876, Porfírio Díaz assumiu a presidência do México e ficou 35 anos no poder. Aos 80 anos candidatou-se novamente. Com desconfiança, as oposições denunciaram fraudes eleitorais. 



Francisco Madero, candidato da oposição, se candidatou defendendo a  não reeleição obtendo apoio popular, mas foi acusado de incitação à rebelião sendo encarcerado. Porfírio então foi reeleito. Madero foi libertado e exilou-se nos Estados Unidos e lá escreveu um projeto liberal que convocava  a população mexicana a se rebelar contra  o porfiriato. com o plano de São Luis Potosí que ganhou adesão de setores populares como operários e camponeses, dando início à Revolução Mexicana. 

As principais lideranças  eram Pascual Orozco e o camponês Pancho Villa no norte do país. 

No Sul surge a liderança de Emiliano Zapata. Defendiam a retomada das terras indígenas e a Reforma Agrária. 

Os combates tomaram todo o país levando  a renúncia  e ao exílio de Porfírio Diaz em maio de 1911, quando um governo provisório foi formado até que fossem  convocadas novas eleições. Francisco Madero foi eleito, mas não realizou a Reforma Agrária, como era necessário.

 A oposição se reorganizou em torno de Emiliano Zapata e propôs o Plano de Ayala em novembro de 1911. Madero acabou deposto e fuzilado por porfiristas apoiados pelos Estados Unidos em 1913.