segunda-feira, 8 de maio de 2023

A linha do tempo e os contextos históricos do filme " Uma História de Amor e fúria"

 


 A BATALHA DAS CANOAS DE 1566
Em 20 de Janeiro de 1566, o acontecimento histórico que fundou a cidade do Rio de Janeiro, com o nome de São Sebastião do Rio de Janeiro, expôs a partir do primeiro evento do filme “ Uma História de Amor e fúria”, a violência  dos portugueses e a lutas dos diversos povos indígenas contra a invasão de suas terras.
 Neste contexto  histórico presente no filme, tivemos  a Batalha das Canoas. Os  indígenas Morubixaba Guaixará, que habitavam o litoral de Cabo Frio, no início do ano de 1566, reuniram-se com outros grupos tupinambás e alguns poucos franceses na Baía de Guanabara, já que esta região vinha sendo invadida e atacada pelos portugueses e seus aliados temiminós. 
Os portugueses buscavam povoar essa região, de modo que seu domínio sobre ela fosse consolidado, enquanto os franceses e nativos, que habitavam essa localidade, eram violentados. Os franceses haviam tentado estabelecer uma colônia na Guanabara anos antes, iniciativa frustrada por um ataque lusitano ocorrido em 1560. Mesmo não tendo conseguido seu objetivo inicial, muitos deles permaneceram vivendo entre os tupinambás, mostrando-se contrários aos  esforços dos portugueses em tomar  terras indígenas  e por isso, os franceses auxiliaram os nativos nessa luta.
Uma das formas de resistência mais praticadas por essa aliança franco-tamoia era atrair os portugueses para uma cilada e combatê-los. Nesse sentido, a aliança preparou uma armadilha de modo que os portugueses fossem emboscados pelos batéis indígenas. Algumas mulheres tupinambás também atuavam na batalha. Regularmente, elas participavam das batalhas, ora na retirada de água das canoas, ora como conselheiras religiosas, buscando auxílio no mundo sagrado.
Em julho de 1566, os tamoios aplicaram seu estratagema: Inicialmente, alguns poucos batéis foram em direção a Francisco Velho, violento bandeirante, que ao lado de Estácio de Sá, então governador, cruzava a baía. Os lusitanos, para se apossar do território, concentraram-se na violência dos bandeirantes e nas edificações para se apossar  da cidade do Rio de Janeiro, como  foi o caso da denominação do morro do  Pão de Açúcar e do  morro  Cara de Cão na data de 1º março de 1565, das quais os portugueses consideraram como o dia da fundação da cidade do Rio de Janeiro.

Com o objetivo de chamar a atenção dos portugueses, os nativos cercaram a embarcação em que o bandeirante Francisco estava. Sendo avisado por uma sentinela do arraial, Estácio partiu com quatro batéis para combatê-los. Ao chegar próximo dos tupinambás, os indígenas propositalmente fugiram. Estácio e o bandeirante  decidiu ir atrás deles. Enquanto isso, os demais indígenas encontravam-se escondidos “numa quina de praia – a ponta do Calabouço, próximo de onde hoje está o aeroporto Santos Dumont” (Dória, 2012, pp.126). Em meio a essa perseguição, as cinco canoas lusitanas se depararam com o restante da numerosa frota tupinambá os esperando. As inúmeras embarcações tamoias surgiram de diversas partes, colocando os portugueses em cerco.
No entanto, os soldados lusitanos dispararam  tiros de canhão que trazia na canoa em direção aos nativos. O portugueses puseram fogo em toda a pólvora disponível em sua embarcação, ocasionando uma grande explosão que encheu a área de uma fumaça negra. Esse incidente gerou um susto intenso na mulher do morubixaba, que proferiu palavras em voz alta condenando o conflito. Ela advertiu que o acentuado fogaréu iria, de alguma forma, alcançar os nativos e que eles deveriam partir imediatamente. Ainda que estivessem prestes a vencer os lusitanos, os tamoios obedeceram-na e recuaram.
Aliviados, os portugueses trataram como um milagre este evento. Para eles, o acontecimento foi uma demonstração do auxílio divino que fez o céu se abrir e o próprio São Sebastião, vestido de sua armadura e emanando uma luz dourada, apareceu à índia em meio a fumaça. Sob essa perspectiva, os portugueses passaram de uma canoa para a outra assassinando vários tupinambás até que eles batessem em retirada.

A BALAIADA
O contexto histórico por que passa esta parte do filme se refere à Independência no Maranhão. A sociedade brasileira imperial,  então escravista e excludente, se apresentava com ares de fidalguia por parte de suas elites. No período pós grito de independência (1822), passou por diversas crises dos governos regenciais, divididas entre as elites locais (liberais ou bem-te-vis)que não queriam pagar impostos para a monarquia com sede em Portugal(os cabanos), que por sua vez, centralizavam o poder político e econômico com sede no Rio de Janeiro. Esse conflito se agravou com as leis dos prefeitos (1838), que limitou a atuação dos juízes de paz e acirrou ainda mais os ânimos entre as elites bem-te-vis e Cabanos.
Sob hegemonia de herdeiros e vivendo em torno de títulos e cargos públicos, as elites monarquistas e liberais insistiam na escravização e em deixar a maioria da população em miséria crescente, vivendo sob a violência tanto dos governos monárquicos, quanto das elites locais. 
No entanto, as medidas autoritárias que eram postas em prática contra  movimentos de contestação e reação à ordem monárquica, tinham caráter regional e local e tiveram ampla participação popular, caracterizadas por ampla diversidade social e política que  incluía desde quarteladas  em geral lusófonas, até confrontos entre facções locais ou regionais da classe senhorial, as quais se somaram rebeliões envolvendo pobres, libertos, escravizados e quilombolas, que eram a maioria da sociedade.

Dessa forma, foi que a Balaiada aconteceu na parte oriental da província do Maranhão, no Piauí e alcançou também o Ceará, entre os anos de 1838 a 1841, sendo uma das principais rebeliões ocorridas no período regencial, chamando a atenção pela diversidade das suas bases sociais: as elites conservadoras ( em geral, monarquistas), os liberais( fazendeiros ou bem-te-vis. Este último era o nome de um jornal liberal em alusão ao seu grupo), e as camadas populares compostas por povos indígenas, afrodescendentes escravizados do Vale  do Rio Itapecuru no Maranhão e os quilombolas.

Os primeiros indícios da revolta ecoaram na Vila do Manga e do Iguará, durante a crise  do comércio de algodão e diante da nomeação dos prefeitos pelo governo central, aumentando a desconfiança da população. 
Assim, a Balaiada mobilizou mais de 12 mil pessoas e teve como um dos principais líderes, Manoel do Balaio, fabricante de balaios. Além de ter sua filha estuprada por um soldado, teve seu irmão Raimundo Gomes, um vaqueiro chamado Cara Preta, acusado injustamente pelo prefeito da Vila de Manga, um cabano conservador. 
Cosme e Manga se aquilombaram para lutar contra a violência  em suas comunidades respondendo aos ataques na Vila de Caxias com apoio e participação ativa as mulheres durante 46 dias. Um capitão simulou aderir a rebelião e disparou um canhão causando pânico entre os balaios, o que animou o partido dos bem te vis, que em seguida enviou pedido de rendição ao presidente do Maranhão. 
A balaiada chega a alcançar Caxias e  a Vila Icatu, que fica em frente a Ilha de São Luiz, representando uma ameaça real ao governo central.

Por isso, o governo central foi implacável e enviou ao Maranhão o presidente das forças armadas, o violento Duque de Caxias, que já havia comandado a guerra Cisplatina entre 1825 e 1828 e assim  retomou o poder do governo central em 1840. 
Os balaios, no entanto, tiveram apoio de cerca de 3 mil escravizados, que fugiram aquilombados sob a liderança quilombola de Cosme Bento das Chagas, mais conhecido como Negro Cosme, e reconhecido como Tutor e imperador da Liberdade Bem te vi, que após a incursão de Caxias, fundou em Lagoa Amarela, na Fazenda Tocanguira, o maior quilombo do Maranhão.

Fontes:

www.cafehistoria.com.br/a-balaiada-luta-por-cidadania-no-maranhao-imperial/

hwww.historia.uff.br/impressoesrebeldes/documento/descricao-da-batalha-das-canoas-por-frei-vicente-de-salvador/
wikipedia.org/wiki/Balaiada

www.brasildefato.com.br/2019/12/13/ha-181-anos-explodia-a-balaiada-revolta-que-uniu-escravos-e-sertanejos-no-maranhao

GOMES, Flávio dos Santos. LAURIANO, Jaime e SCHWARCZ, Lilia Moritz. Enciclopédia negra. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.


Filme completo em: 

https://www.youtube.com/watch?v=y_DYNv8RZ7A&t=35s


Ouça também os textos em: 

https://podcasters.spotify.com/pod/show/fabola-lendo-histria/episodes/A-Batalha-das-Canoas-no-contexto-do-filme--Uma-Histria-de-Amor-e-Fria-e2h7dca

https://podcasters.spotify.com/pod/show/fabola-lendo-histria/episodes/A-Balaiada-e-o-contexto-histrico-da-segunda-parte-do-filme-Uma-Histria-de-Amor-e-Fria-e2h7ck1