Um apelo público atribuído a Toussaint L’Ouverture, general dos
exércitos do rei, mas também escravo de uma plantation, rompeu com a submissão aos
monarcas espanhóis ainda em 1793, e defendeu princípios da República e da
emancipação.
A maré revolucionária estava prestes a mudar e a incluir a luta
pela abolição imediata. O apelo do líder dizia:
”Irmãos e amigos sou Toussaint L’Ouverture, talvez conheçais meu nome.
Quero que a liberdade e a igualdade reinem em São Domingos. Trabalho para que
isso aconteça. Uni-vos a nós irmãos, e lutai conosco pela mesma causa.
os líderes negros deram um passo rumo à independência. A ascensão
política de Napoleão Bonaparte, em 1799, mostrou os limites da revolução negra
em São Domingos, pois, enquanto Napoleão adquiria notoriedade na Europa,
Toussaint projetava um governo centralizado e militarizado: não proclamou a
independência de São Domingos, mas se auto-proclamou governador vitalício da
colônia, em 1801. Para o governo napoleônico, este passo foi largo demais...Napoleão
enviou ao Caribe uma expedição para a reconquista de São Domingos e, ainda que
não se divulgasse abertamente, seu governo inclinava-se à restauração da
escravidão nas colônias, o que de fato ocorreu em 1802. Neste mesmo ano,
Toussaint foi preso pelas forças napoleônicas estacionadas em São Domingos e
deportado para França, onde morreria na prisão, no ano seguinte.
A tentativa francesa de recuperar São Domingos atingiu níveis de
extermínio que anteciparam as guerras coloniais da época posterior. Os generais
negros e mulatos que herdaram a liderança de Toussaint (J.J. Dessalines,
H. Christophe e Pétion, entre outros) nomearam Dessalines como
comandante-em-chefe e conduziram a luta contra os franceses até a vitória negra.
Em 1° de janeiro de 1804 foi proclamada a República do Haiti e Dessalines (um
ex-escravo, como Toussaint) foi nomeado governador-geral.
Nas
primeiras décadas do século XIX, o Haiti despontou como o primeiro Estado das
Américas a conquistar a independência e a garantir, ao mesmo tempo, o fim da
escravidão. A consolidação do poder negro na ilha inspirou revoltas escravas em
Cuba, Estados Unidos, Jamaica e Brasil, promovendo o temor contínuo entre
propietários de plantations e autoridades de diversas regiões da
Afro-América.
Os caminhos desse Estado negro no período pós-independência
oscilaram entre os projetos de reconstrução do sistema produtivo e as
alternativas de autonomia oferecidas pela pequena propriedade. Dessalines, que
governou até ser assassinado, em 1806, liderou um processo de confisco das
propriedades francesas e anunciou o plano de distribuir terras aos
veteranos revolucionários. Impôs também quotas de trabalho aos lavradores, mas
a economia enfraquecida pela guerra e por uma burocracia desorganizada gerou
poucos resultados comerciais. Após a morte de Dessalines, o país foi dividido
em dois. Alexandre Pétion passou a governar o sul nos moldes da República,
enquanto Henri Christophe (também ex-escravo) assumiu o controle do norte da ilha,
onde se fez coroar rei. Para Christophe, apesar do isolamento, o Haiti
precisava recuperar a capacidade produtiva: os engenhos foram submetidos a uma
rigorosa disciplina de trabalho, com coordenação estatal da economia. Como
saldo desta experiência, a severidade do regime trouxe sucesso econômico,
mas contribuiu para o isolamento de
Christophe no poder e para a revolta interna que o derrubou, em 1820.
(Suzanne Sanité Bélair, heroína da revolução Haitiana e em 2004, apareceu na nota de 10 gourde, para a série comemorativa do "Bicentenário do Haiti".)
Nesta época, a alternativa de governo surgida no sul republicano
tornou-se dominante no Haiti. Primeiro com A. Pétion, e depois sob a liderança
do Presidente Boyer, os planos de distribuição de terra conquistaram apoio
popular. O sistema agrícola da República como um todo passou a basear-se em uma
combinação de minifúndios de camponeses e latifúndios operados por fazendeiros
arrendatários. Para o antropólogo Sidney Mintz, o Haiti ingressou neste momento
no sistema de pequena propriedade camponesa auto-suficiente. Assim, o sonho do
Estado negro moderno, envolvido em relações comerciais de âmbito internacional,
teria naufragado, pois a população liberta desejava terra. A terra,
mesmo que em parcelas mínimas, revestia-se de significados poderosos para uma
nação formada, majoritariamente, por homens e mulheres recém-saídos da
escravidão: a terra era simbolicamente a morada dos ancestrais para os
afro-descendentes, principalemente neste período, tanto quanto um recurso
contra a privação. Assim o Haiti tornou-se, lentamente, o país mais
profundamente camponês do Caribe.
O Haiti não foi o primeiro estado americano a se tornar
independente, mas seguramente foi o primeiro a afirmar a liberdade civil de
seus habitantes. O conteúdo emancipacionista da independência haitiana foi
sintetizado por R. Blackburn: “Parte da grandeza da extraordinária Revolução Francesa
consiste em ter vindo patrocinar a
emancipação dos escravos ...; e parte da grandeza da extraordinária
Revolução de São Domingos/Haiti é que teve sucesso ao preservar as conquistas
da Revolução francesa contra a própria França”.
OUÇA TAMBÉM:
https://anchor.fm/fabola-lendo-histria/episodes/A-Revoluo-de-So-Domingos-O-Haiti-e-a-Revoluo-Francesa-e27jghg
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FONTES:
VAINFAS, Ronaldo.[Et. al ]Componente
curricular: História. 2ª edição. São Paulo. 2013
VIANA, Larissa: A Independência do Haiti na Era das Revoluções
In:
http://anphlac.fflch.usp.br
https://almapreta.com/sessao/quilombo/conheca-quem-foram-as-mulheres-por-tras-da-revolucao-do-haiti
https://www.historia.uff.br/stricto/td/2308.pdf
http://www.periodicos.ufc.br/amerindia/article/download/1380/1286
EM SEGUIDA RESPONDA A SEGUINTE QUESTÃO:
Identifique e as principais similaridades entre a Revolução no Haiti e a Revolução Francesa: