No processo histórico de âmbito internacional que se refere a passagem do século XVIII para o século XIX, verificamos a primeira grande crise do Sistema Capitalista. A partir dessa crise de 1870, as burguesias dos estados nacionais europeus propõem como saída, a segunda industrialização e o neocolonialismo, a nova fase da corrida imperialista.
A industrialização teve como objetivo, o aumento do lucro dos donos das fábricas, bancos e estados nacionais com suas associações, tais como o monopólio e o oligopólio, e se pautou no aumento da exploração do proletariado industrial na Europa e na exploração colonial de países não europeus - o neocolonialismo.
Para isso as classes dominantes europeias vão se valer da construção de ideologias para domínio e subalternização das diversas populações asiáticas, americanas e africanas a partir das ideologias racialistas/racistas.
Essas ideologias são pensadas como "falsa consciência", tal como preconizou Karl Marx, ao estudar o funcionamento do Capitalismo. Com intuito de alavancar o racismo a partir da sobreposição de teorias específicas que são retiradas de seu respectivos contextos, nas quais são construídas e generalizadas como instrumentos racistas de dominação colonial. Tais ideologias racialistas, partem por exemplo de teorias como a de Charles Darwin, da teoria da "seleção natural" a partir da observação das plantas. Mas a partir de 1860 a construção do Darwinismo social, retirava essa teoria da biologia transpondo-a para as ciências sociais como ideologia, que se desenvolveu a partir da concepção de que havia uma "seleção natural" entre os Seres Humanos e que "os mais fortes" se sobrepõem aos "mais fracos", criando binômio civilização X barbárie, selvagens X desenvolvidos e justificando assim, uma relação colonialista de homens brancos sobre os demais grupos populacionais.
Neste mesmo contexto, tivemos ainda o nascimento da teoria de Malthus, uma teoria populacional, que para as ciências humanas, surge com o neomalthusianismo - a afirmação de que a população aumentava em escala geométrica (2x2x2x2), enquanto a quantidade de alimentos aumentava em escala aritmética( 2+2+2+2). Ao entender a população como uma equação, afirmavam que não haveria alimentos para todos e por isso justificava a esterilização em massa das mulheres, controle da natalidade, submissão de populações, guerras e massacres com a colonização.
Entre as diversas ideologias racistas que passou a ser difundida neste período, uma destas foi baseada em Artur de Goubineau, que preconizava a separação entre as raças, o que levou a regimes de apartheid e criação de ódio racial/social com a discriminação racial, e separações populacionais aprofundando o papel das ideologias até os dias atuais.
Outra ideologia muito difundida foi a do positivismo, a partir das ideias de A. Comte, que passou a discriminar populações entre consideradas "mais ou menos evoluídas" exaltando o papel dos "mais evoluídos" para alavancar uma evolução social como se os "mais evoluídos" tivessem que carregar um fardo de evoluir toda a sociedade.
Estas e outras ideologias racistas nascidas sob o Capitalismo de fase imperialista no século XIX, serão base dos Estados Nacionais e levarão às grandes guerras de cunho neocolonial no século XIX e no século XX, e até os dias atuais são a base dos estados nacionais, que carregam o racismo na estrutura das sociedades.
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Fontes:
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