quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Imperialismo: o neocolonialismo e o racismo

 No processo histórico  de âmbito internacional que se refere a passagem do século XVIII para o século XIX, verificamos a primeira grande crise do Sistema Capitalista. A  partir dessa crise de 1870, as burguesias dos estados nacionais europeus propõem como saída, a  segunda industrialização e o neocolonialismo, a nova fase da corrida imperialista.

A industrialização teve como objetivo, o aumento do lucro dos donos das fábricas, bancos e estados nacionais com suas associações, tais como o monopólio e o oligopólio,  e se pautou no aumento da exploração do proletariado industrial na Europa e na exploração  colonial de países não  europeus  -  o neocolonialismo.


Para isso as classes dominantes europeias vão se valer da construção de ideologias  para domínio e subalternização das diversas populações asiáticas, americanas e africanas a partir das ideologias racialistas/racistas.

Pôster divulgando exposição de zoológico humano em circo

Essas ideologias são pensadas como "falsa consciência", tal como preconizou Karl Marx, ao estudar o funcionamento do Capitalismo. Com intuito de alavancar o racismo a partir da sobreposição  de teorias específicas que são retiradas de seu respectivos contextos, nas quais são construídas e generalizadas como instrumentos  racistas de dominação colonial. Tais ideologias racialistas, partem por exemplo de teorias como a de Charles Darwin,  da  teoria da "seleção natural" a partir da observação das plantas. Mas a partir de 1860 a construção do Darwinismo social, retirava essa teoria da biologia  transpondo-a para as ciências sociais  como ideologia,  que se desenvolveu a partir da concepção de que havia uma "seleção natural" entre os Seres Humanos e que "os mais fortes" se sobrepõem aos "mais fracos", criando binômio civilização X barbárie, selvagens X desenvolvidos e justificando assim, uma relação colonialista  de homens brancos  sobre os demais grupos populacionais.


Neste mesmo contexto, tivemos ainda o nascimento  da teoria de Malthus, uma teoria populacional, que para as ciências humanas, surge com o neomalthusianismo -  a  afirmação  de que a população aumentava em escala geométrica (2x2x2x2), enquanto a quantidade de alimentos aumentava em escala aritmética( 2+2+2+2). Ao entender a população como uma equação, afirmavam que não haveria alimentos para todos e por isso justificava a esterilização em massa  das mulheres, controle da natalidade, submissão de populações, guerras e  massacres com a  colonização.

 Revista em quadrinhos "Tarzan". Construída para difusão das ideias racistas

Entre as diversas ideologias racistas que passou a ser difundida neste período, uma destas foi baseada em Artur de Goubineau, que preconizava a separação entre as raças, o que levou a regimes de apartheid e criação de ódio racial/social  com a discriminação racial, e separações populacionais aprofundando o papel das ideologias até os dias atuais.

Outra ideologia muito difundida foi a do positivismo, a partir das ideias de A. Comte, que passou a discriminar populações entre consideradas "mais ou menos evoluídas" exaltando o papel dos "mais evoluídos" para alavancar uma evolução social como se os "mais evoluídos"  tivessem que carregar um fardo de evoluir toda a sociedade.

Cecil J. Rhodes, colonizador britânico. Fundador da Cia Beers que detém 44% de todo o mercado de diamantes do mundo. Responsável pelo maior genocídio da população africana.

Estas e outras ideologias racistas nascidas sob o Capitalismo de fase imperialista no século XIX, serão  base dos Estados Nacionais e levarão às grandes guerras de cunho neocolonial no século XIX e no século XX, e  até os dias atuais são a base dos estados nacionais, que carregam o racismo na estrutura das sociedades.


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Fontes:

ANDREWS, K. Anova era do império: Como o racismo e o colonialismo ainda dominam o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2023.

CÉSAIRE, A. Discurso sobre o colonialismo. Lisboa, Ed. Présence Africaine, 1955.

FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

KONDER, L. A questão da ideologia em Marx. In: KONDER, L. A questão da ideologia. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

SANTOS, Ynaê Lopes dos. Racismo brasileiro: uma história da formação do país. São Paulo: Todavia, 2022.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Lima Barreto: triste visionário. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

 MARX, K. Capítulo 1. A mercadoria. In: MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro I. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2017. 

SAID, Edward W. Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

HOBSBAWM, Eric J. Era dos impérios: 1875-1914. São Paulo: Editora Paz e Terra S/A, 2005.