quinta-feira, 21 de outubro de 2021

A África e a Escravidão Moderna


A escravidão moderna foi iniciada no século XV, e serviu de alicerce da colonização entre o Novo Mundo e o Capitalismo mercantilista, formando o comércio triangular entre Europa, Américas e África. Diferente da escravidão na Antiguidade, que acontecia em função do não pagamento de dívidas ou resultados de guerras e não se dava por toda a vida.

A dizimação de grande parte da população ameríndia e a proibição da escravização indígena no começo do século XVI, transformou o africano em escravizado, e foi alternativa lucrativa para os europeus. Os portugueses, que investiram massivamente na expansão marítima, foram os primeiros europeus a explorar a África ocidental.

A partir do início do século XV queriam ter acesso direto ao ouro africano que chegava à Europa pelas mãos dos muçulmanos  e se interessavam também pelo comércio com o Oceano Índico, que neste período foi controlado pelos italianos e  muçulmanos.

 Em meio às guerras das Cruzadas, o mediterrâneo era o caminho mais fácil para chegar ao Oriente (Índias), que por sua vez, estava sob controle dos muçulmanos, e eram inimigos dos religiosos católicos. Por isso, os portugueses resolveram contornar todo o continente africano para chegar à Ásia.

Em 1434, as expedições portuguesas aportaram na região da Guiné onde viviam os povos africanos iorubás, edos e acans,  e em seguida chegaram ao Congo. Ao chegar ao Congo, guerrearam contra os povos africanos, que eram soberanos e possuíam muito ouro, mas os portugueses não conseguiram comprar todo o ouro que precisavam para manter sua economia mercantil em disputa na Europa. Sendo assim, transferiram seus interesses  para a escravização dos africanos. As elites das sociedades africanas que habitavam as regiões próximas ao litoral, passaram a escravizar e comercializar africanos por produtos vindos da Europa, como o veludo e as armas de fogo para revender e guerrear.

Ainda no século XV, os portugueses compraram um grande número de africanos que seriam vendidos para outras sociedades europeias, ou então utilizados como mão-de-obra na produção de cana-de-açúcar na Ilha da Madeira em Portugal.

Os portugueses encontraram então, justificativas econômicas para escravizar os africanos, mas com respaldo da igreja católica, que tinha interesse em cristianizar "infiéis" e ampliar seu rebanho, como foi o caso do Papa Nicolau V que em 1454, publicou uma bula papal, que deu forma à aliança entre a igreja e o estado português para escravizar os africanos.

Com a conversão do rei do Congo ao catolicismo, as primeiras grandes levas de africanos escravizados, saíram da região que hoje corresponde aos países de Congo e Angola. Entre  os séculos XVI e XVII, além dos portugueses, os franceses, holandeses e ingleses também passaram a comprar africanos para escravizar na Costa do Ouro, atual país de Gana, habitado por sociedades africanas fantis e mandingas.

Nos séculos XVII e XVIII, europeus e brasileiros passaram a escravizar também os africanos no Golfo do Benim, e no século XIX e reacendeu com força a escravização na região Congo-angolana.

Cerca de 42% do total dos africanos foram escravizados por embarcações inglesas, seguido por 26% de  Portugal e Brasil; e 14,8% por navios franceses; 4,5% de embarcações dos Estados Unidos, os holandeses traficaram 4,1% e espanhóis 0,8% usaram suas embarcações  para  tráfico de africanos.


Na Senegâmbia, os africanos eram embarcados principalmente nos portos de Arguim e Cabo Verde, onde fica a cidade de Dakar, sendo trocados por algodão, cavalos e sal. Na Costa do ouro, objetos de ferro e tecidos comercializados no Índico eram trocados por africanos principalmente no porto de Anomabu. Na Costa dos Escravos,  os portos de Ajudá,  Porto Novo, Lagos, Afra,  Popo Grande e Jakin eram os principais pontos de embarque de africanos,  trocados principalmente por sal, algodão e cavalos. Nos portos de Pinda e Cabinda, no Congo, os africanos eram trocados por armas, pólvora,  tecidos de algodão, seda, cachaça e porcelana. Nos portos de Luanda e Benguela a troca era feita por cachaça, contas de vidro, tecidos, facas e trigo. Em Moçambique, os escravos,  embarcados principalmente em Quelimane, Quiloa e Inhambane, eram trocados por armas, pólvora e algodão.

O apogeu do tráfico foi atingido no século XVIII, com a crescente demanda de produtos tropicais na Europa. Entre 1781 e 1790, importaram-se mais de 80.000 escravos por ano, estando envolvidos no tráfico, os ingleses, franceses, espanhóis, portugueses, holandeses e dinamarqueses. Foi também durante o século XVIII que surgiram coletivamente os primeiros abolicionistas, por motivos religiosos ou iluministas e, sobretudo, porque a partir da Revolução Industrial e de suas transformações na produção e no mercado de trabalho, a escravidão tornou-se obsoleta neste processo de modernização.

Só em 1803 a Dinamarca aboliu o comércio de escravos, seguindo-se a Inglaterra em 1807, a França em 1817, a Holanda em 1818, a Espanha em 1820 e a Suécia em 1824. Nas colônias britânicas, a escravidão foi finalmente abolida em 1833, nas holandesas em 1863 e o Brasil apenas após 1888.


Ouça também em:

https://anchor.fm/fabola-lendo-histria/episodes/A-frica-e-a-Escravido-Moderna-e1jbd2k


Fontes:


SANTOS, Ynaê L.História da África e do Brasil afrodescendente. 1a. Edição, Pallas, 2017.

Pesquisado 20/10/2021 em:https://www.ufrgs.br/cdrom/depestre/escravidao.htm

Pesquisado 21/11/2021 em:https://www.geledes.org.br/escravizacao-de-africanos/

Pesquisado 21/11/2021 em:https://www.todamateria.com.br/trafico-negreiro/