"Se dedicar é só isso, tenho muito a agradecer ao meu Grande Professor Leandro Konder. Foi a maior das transformações que uma aluna pode experimentar: O seu enorme saber e imensa bondade."
Fabíola Camargo.
Após diversas experiências revolucionárias acontecidas no século XVIII , houve uma transformação na vida e na forma de ver o mundo, mas que ao mesmo tempo gerou o Sistema Capitalista. Este Sistema não melhorou de forma significativa a vida da maioria das pessoas pobres. Por isso alguns estudiosos começaram a pensar sobre o porquê das condições desumanas que viviam os trabalhadores .
Se por um lado a Revolução Francesa foi exemplo para as conquistas políticas, como direito ao voto, uma constituição que impedia a exploração do outro como quisesse, e que enfatizava a igualdade, a liberdade e a fraternidade, por outro lado esta Revolução Francesa não conseguiu, com as maiorias( sans cullottes), colocar em prática por mais tempo as suas conquistas. O mundo ainda viva o Antigo Regime: dos reis e nobres privilegiados que destruíram as conquistas da Revolução Francesa ( com a invasão de Napoleão apoiado pelas elites das monarquias de outros países)e se apropriaram das descobertas da Revolução Industrial.
Com isso, a burguesia aumentou muito seus lucros. Uma vez que começavam a lucrar, mais ricos queriam ficar. Muitos nobres se tornaram banqueiros, grandes burgueses e financiavam a exploração dos países coloniais.
Dessa forma a exploração do “proletariado” ( A classe trabalhadora, que só possui seus filhos, ou seja, sua “prole” para alimentá-los com apenas um pequeno salário. Este é o bem mais importante desta classe).Esta maioria por sua vez, conquistou direitos, como a diminuição das horas de trabalho e o fim do trabalho infantil, e ainda deixou como exemplos, diversas formas de lutar por direitos para acabar com a exploração das burguesias. Mas a maioria excluída, mas com experiências revolucionárias e muitos pensadores começaram a questionar a exploração que o Sistema Capitalista trazia.
No entanto, a maioria da classe trabalhadora não tinha tempo para analisar suas condições e teorizar quais as saídas e as soluções para os seus problemas. Apesar das conquistas, ainda trabalhavam de 12 a 16 horas por dia.
Daí alguns estudiosos começaram a pensar sobre o que poderia vir a ser uma nova Sociedade. Entre estes pensadores e estudiosos, estava Graco Babeuf . Babeuf analisou que a Revolução francesa havia sido derrotada quando Robespierre foi derrubado do poder. Babeuf pretendia fazer uma nova e última Revolução: Submeter toda propriedade aos interesses da coletividade. Mas como o poder de vida e de morte estava nas mãos dos capitalistas, Babeuf Foi condenado à morte em 1797.
Saint Simon (1760-1825) pensava que a burguesia era uma classe parasitária, e deveria reanimar ideais cristãos como foi na origem, como próprio Cristo fez, de forma que as indústrias deveriam ser divididas entre a burguesia nascente, operários, mulheres, comerciantes e banqueiros . Foi Saint Simon quem percebeu pela primeira vez que havia uma luta entre duas classes na Revolução Francesa.
Robert Owen foi outro grande estudioso e que somou experiência e estudo: Foi uma daquelas crianças exploradas pelo mundo capitalista que surgia. Foi criança muito pobre e começou a vida como empregado do comércio. Chegou a diretor-sócio de uma grande indústria têxtil. Estudava profundamente sobre a Revolução inglesa. Entre 1800 e 1829 alterou completamente o funcionamento de sua fábrica humanizando as relações, diminuindo horário de trabalho, dedicando-se a educação das crianças, fornecendo condições decentes de saúde e moradia aos seus operários.
Até então era só. Mas a monarquia inglesa não gostou mais de seus feitos quando se declarou Comunista(Sistema que propõe uma sociedade sem classes: Sem exploração de uma classe pela outra.) Por isso fez a primeira experiência nos Estados Unidos de uma indústria onde os operários participavam do governo desta Indústria. Morreu pobre, mas foi um dos pensadores mais próximos de uma proposta de uma Sociedade mais feliz para as maiorias.
Charles Fourier pensava que a experiência era melhor que as revoluções: Por isso criou a idéia de que as pessoas deveriam viver em comunidade.O nome desta comunidade seria “Falanstério”. De acordo com o Filósofo Leandro Konder, Fourier pensava que os homens eram movidos por doze paixões radicais: Olhar, ouvir, cheirar, do paladar e do tato, aliada as paixões da amizade, do amor, da ambição, do sentimento de família e a paixão pela qual acrescenta a cabalista. A paixão cabalista é a que leva o Ser Humano a se juntar a outro grupo dentro da comunidade e a fazer política, para levar vantagem em relação aos outros grupos, servindo-se inclusive, da fofoca. Além disso, Fourier escreve sobre a paixão da borboleta,que varia de flor e muda todo o tempo. Já a paixão radical da compósita, significava para Fourier, um sujeito que coloca alguma causa ou ideal acima de seus interesses mais imediatos. Mas para Fourier havia uma paixão radical entre os Seres Humanos acima das demais: a de querer juntar todas as demais paixões e vivê-las.
Dessa forma os Seres Humanos seriam muito mais felizes, viveriam por mais tempo e usufruiriam de maiores prazeres. Assim chegariam juntos a Harmonia. Esta então seria a base do “Falanstério”.
Para Fourier “Se a vida fosse organizada baseada na associação e no cooperativismo, todos poderiam desenvolver integralmente seus talentos”. O último estágio do Ser Humano seria o Socialismo, onde seria especialmente concebido para felicidade humana.
A última socialista utópica que iremos nos referir é Flora Tristan.
A partir das Revoluções industriais, aumentou muito a incorporação das mulheres ao mercado de trabalho. Com as agitações populares ligadas a Revolução Francesa, as mulheres também tiveram ocasião de participar de acontecimentos marcantes na vida política. Aprenderam a protestar nas ruas.
Aliado ao ambiente cultural do Romantismo que inaugurava o século XIX, que por sua vez, valorizava a expressão dos sentimentos e o testemunho sobre experiências vividas, legitimou a voz emocionada das mulheres. Elas que eram mantidas em geral longe da escola e não dominavam a argumentação vivida no século XVIII pelos iluministas, puderam falar o que sentiam, o que viviam.
Foram os primeiros movimentos socialistas ao lado da mobilização dos trabalhadores que estimulava a denúncia das mulheres contra a exploração capitalista e machista que para as mulheres, caminhavam juntas.
Entre o mundo particular e privado em que vivia, a mulher Flora Tristan tinha três filhas.
Após a invasão de Napoleão na Espanha o pai da futura escritora morreu em 1807. Seu pai era perruano, Mariano deTristan,oficial do exército espanhol. Casado com uma francesa de origem humilde que vivia na Espanha, Anne-Pierre viria a ser mãe de Flora. Casaram-se em 1808 irregularmente driblando a burocracia e não se remetendo ao consulado francês napoleônico.O pai de Flora também não solicitou ao rei da Espanha autorização para casar. Viveram na França. Seu pai foi amigo de um dos maiores revolucionários da América do Sul: Simon Bolívar. Mas os anos seguintes da morte do pai de Flora seriam marcantes: Sua mãe grávida e sem moradia.A guerra entre Espanha e França atingiu a casa do “militar” e “espanhol” tido desta vez, como inimigo. A moradia de Flora com sua mãe grávida foi tomada pelo governo colonizador de Napoleão. Pagariam aluguel. Como? Flora perdeu seu irmão de 9 anos. Viveram então num ambiente rural modestamente. Ao completar 15 anos, Flora foi morar com sua mãe em Paris numa rua suja e estreita durante a restauração monárquica.Neste período Napoleão havia sido destituído do poder pela Dinastia dos Bourbons da linhagem de Luis XVI. Era a reação monárquica. Não se aceitava sequer uma constituição.
Flora somava entre suas obrigações privadas, o casamento com Chazal, seu marido e eterno rival, de quem fugiu por toda vida. Com uma bala no peito, que Chazal atirou-lhe, lutou por divórcio: “O problema do casamento e dos filhos prendiam-na à esfera privada; os problemas do socialismo lançavam-na à esfera pública”.( Konder, 1994) O sonho de uma sociedade mais justa e igualitária, sobretudo para os operários e mulheres passava por uma ética cotidiana. Aliava teoria à sua Vida, que denominamos práxis. E Flora se auto intitulava: Pária! Metáfora da sua vida e da exclusão das mulheres: Como ela mesma sublinhou: “O socialismo para as mulheres e o feminismo para o proletariado!” E contava com as lavadeiras na beira dos rios... O desrespeito a intimidade unia ao socialismo numa só luta. Quando o amor e a ternura se tornam obsoletas em relação ao desejo egoísta de satisfazer o desejo e o lucro a qualquer custo”. E completava: “Isolada uma luta se torna fraca, saiam do isolamento e se unam.”
Bibliografia:
TRISTAN, Uma vida de Mulher,uma paixão Socialista", Relume Dumará,1994.
FOURIER, Charles. " Fourier, o Socialismo do prazer Ed. Civilização Brasileira, 1998
Chronos: Publicação Cultural da Uni - Rio Rio de janeiro - vol. 1 , n.1 (2006) Rio de Janeiro, UNIRIO,2006.